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Don L, Artista do Ano pela APCA: “Eu sempre fui um cara não pertencente”

Sem papas na língua, o cearense falou sobre sua vinda para São Paulo, sua carreira e seu último disco, Roteiro para Ainöuz (Vol 2.)

Por Tomás Novaes
Atualizado em 3 fev 2022, 17h24 - Publicado em 3 fev 2022, 17h24
Imagem mostra homem de camisa vermelha e chapéu verde escuro. Ele veste diversos colares e está apoiado em uma parede cinza de tijolos.
O rapper cearense recebeu o prêmio APCA de Artista do Ano. (Bel Gandolfo/Divulgação)
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Don L é de Fortaleza, mas mora em São Paulo desde 2013. Veterano do rap, fez parte do supergrupo Costa a Costa, formado em 2005, que influenciou toda uma geração e mudou a maneira de fazer rap no país. Há quase dez anos, decidiu pausar o grupo e trocar o litoral nordestino pelas trilhas do Pico do Jaraguá.

Eleito nesta semana Artista do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), Don chegou em São Paulo voando baixo – respeitado e aclamado no meio, mas fora dos holofotes. “Eu cheguei aqui meio que ‘o rapper favorito dos rappers’ – não tinha muito público, mas todo mundo da cena me conhecia”.

“Subestimado, um nordestino em São Paulo chama pouca atenção, tamo em todo pico” – Faixa 3, A todo vapor

Ele conta que veio em um momento bom para o rap na cidade. “Foi a era que surgiu Emicida, Rashid e Projota. Eles vieram numa época que São Paulo estava muito boa, economicamente. Agora tá outra coisa”.

+ “Eu sempre senti um prazer estético por São Paulo”, diz Zé Ibarra

O rapper já morou no Largo do Arouche, no Centro, e hoje vive na Vila Leopoldina – “Isso aqui eu nem considero um bairro”, diz ele, que não economiza críticas à metrópole. “A cidade vai indo pelo mercado e cria essas coisas aqui: um bairro que é horrível de morar, igual quase todos os bairros de São Paulo que tem mais prédios, ruas sem ninguém, sem espaços de convivência coletiva”.

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Essa experiência em São Paulo não ficou de fora do universo do seu último disco, Roteiro para Ainöuz (Vol 2.), de 2021. As faixas A todo vapor, Contigo pro que for e Élewood pintam imagens paulistanas – “uma treta na São João”, “parapeito do Copan” – ao mesmo tempo que o rapper constrói uma espécie de “levante popular surrealista”, que é o tema do álbum.

Imagem mostra homem de camisa vermelha segurando um fuzil. Ao fundo, céu azul.“Muito mais guerrilheiro do que MC”, diz o rapper em uma das faixas do disco.

“Eu sempre fui comunista”, afirma Don, que fez seu trabalho mais político no ano passado. Não que seja uma novidade em sua carreira – seu antecessor, Roteiro para Ainöuz (Vol 3.), já incluía citações de Zizek a Marx. “O estado de capitalismo tardio que a gente vive me força a um radicalismo maior, o que acelerou algo que eu já faria”.

Por cima de sangue derramado já fomos quilombos e cidades, Canudos e Palmares, originais e originários” – Faixa 2, Vila Rica

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A narrativa do disco passeia por uma conexão entre um passado histórico – “Vila Rica“, “Canudos e Palmares” – e um futuro utópico e guerrilheiro. Não à toa o disco termina com a faixa Trilha para uma nova trilha, explicitando um apontamento para o futuro, um novo futuro.

“Tentando forçar um encantamento do mundo para fazer a vida fazer sentido”

Sua desilusão com atual estado do país e do mundo inspirou a decisão de construir esse ideal no seu som. Como ele mesmo define, “tentando forçar um encantamento do mundo para fazer a vida fazer sentido”. E, para isso, Don acredita que precisamos “recuperar nossa noção de coletividade dentro de uma perspectiva de mudança social mesmo, de luta política“.

“Infestivável”, Don acredita que o motivo principal de ainda se enxergar boicotado pelo circuito mainstream é justamente essa postura política.  “Já foi muito pelo fato de eu ser do Nordeste, não acho que seja mais”, completa.

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“Eu sempre fui um cara não pertencente”, diz Don, que além de procurar seu espaço na cena, também caça outro lugar na cidade para chamar de seu. Ele diz que pensa no Butantã ou uma casinha na Cantareira. “Eu sempre vivi em êxodo, mesmo em Fortaleza”.

Fora dos festivais, mas com público consolidado e um prêmio APCA nas costas, Don parece seguir voando cada vez mais alto, apesar de tudo – e já adianta que nunca teve tanta clareza do que quer para o próximo disco, o aguardado Roteiro para Ainöuz (Vol 1.), quanto agora.

Para a Vejinha, o rapper fez uma seleção do que ele vem escutando ultimamente. Confira a playlist: https://open.spotify.com/playlist/74zK9PQGDLttFOZSrUxqOP?si=8537b5bd0d154ae1

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+Assine a Vejinha a partir de 12,90.

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