Afinidade e afinação totais. A mágica união das vozes de Maurício Maestro, David Tygel, Zé Renato e Lourenço Baeta, com o grupo Boca Livre, está em harmonia após mais de dois anos de separação por motivos políticos — e a celebração desta nova fase acontece no Sesc Pinheiros, com shows esgotados neste sábado (27) e no domingo (28).
“O importante foi ver que as divergências haviam sido superadas e que a vontade de fazer música era maior do que qualquer questão”, resumiu Maurício sobre o novo momento do conjunto carioca.
Fundado em 1978, o quarteto esteve separado de janeiro de 2021 a setembro de 2023, após a saída de David, Zé e Lourenço, motivada por divergências políticas com Maurício, que, na época, fez postagens críticas à vacinação contra a Covid-19.
A reaproximação partiu de uma vitória inesperada: no início do ano passado, a banda ganhou o Grammy de melhor álbum de pop latino com Pasieros (2022), gravado com o artista panamenho Rubén Blades.
“Foi um reconhecimento de todo o nosso trabalho. Eu não esperava ganhar naquela noite, concorrendo com Christina Aguilera, Camilo e Sebastián Yatra”, diz Lourenço, que subiu ao palco para receber a estatueta, em Los Angeles.
“Só o papo que tivemos depois da premiação foi um reencontro. Discordar entre nós, seja publicamente ou no cotidiano, é inevitável. Essa reunião é musical e convergente — a música aproxima, mesmo discordando”, completa o músico.
Desde que voltou, o Boca Livre já disponibilizou seus primeiros discos nas plataformas digitais, lançou um single inédito e prepara um novo álbum, previsto para maio. Além de canções dos quatro, nomes como Nando Reis, Tim Bernardes, Guilherme Arantes, Erasmo Carlos, Márcio Borges e Zeca Baleiro estarão na lista de compositores do trabalho.
“O Boca Livre tem muita vontade e possibilidade de furar bolhas e públicos, sem abrir mão da nossa maneira de fazer música. A gente espera que esse disco alcance muitas pessoas”, afirma David.
Questionados se há algum arrependimento do período de rompimento, Zé responde: “Acho que as coisas acontecem como têm que acontecer. Retornamos agora porque sentimos vontade de voltar, e antes sentimos que era o momento de nos separar. Superamos o suficiente para recuperar o encantamento de cantarmos juntos, que foi o que sempre nos uniu”, disse. ■
Publicado em VEJA São Paulo de 26 de janeiro de 2024, edição nº 2877