Dois filmes recentes me decepcionaram. Um deles é Rebecca, a Mulher Inesquecível, cara e luxuosa produção de época da Netflix, que é um remake do filme homônimo que Alfred Hitchcock fez em 1940 (e ganhou o Oscar!). Nem é preciso entrar nos méritos da comparação. A obra de Hitchcock era soturna, gótica, sombria e com uma belíssima fotografia em preto e branco, também premiada com o Oscar.
O novo Rebecca é mais solar, colorido (a começar pelo terno amarelo gema de Armie Hammer), principalmente na primeira (e melhor parte). Inspirado no romance da escritora Daphne Du Maurier, a história mostra como a humilde dama de companhia de uma senhora rica, interpretada por Lily James, conheceu (e se apaixonou) pelo viúvo Maxim De Winter, em Monte Carlo.
O amor (quase) à primeira vista acaba em casamento e eles vão morar na mansão Manderley, na costa britânica. Lá, ela tem de conviver com o fantasma de Rebecca, a mulher de Maxim que teve uma morte misteriosa e é idolatrada pelos empregados, sobretudo pela governanta Mrs. Danvers (Kristin Scott Thomas).
A química entre Lily James (boa atriz) e Armie Hammer (lindo e inexpressivo) é zero e não dá para embarcar no romance dos dois. Na segunda parte, o suspense ganha espaço na trama e, nem assim, o filme decola. O comportamento da protagonista é inconsistente e a presença da pérfida governanta provoca alteração abaixo de zero no termômetro emocional. Rebecca tem, portanto, um resultado frio e sem grandes surpresas, além de ser apressadamente mal-costurado.
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Talvez pela minha alta expectativa, minha maior decepção foi com On the Rocks, que chegou à AppleTV+. As credencias indicavam um bom filme: Sofia Coppola dirigindo Bill Murray (dezessete anos depois do adorável Encontros e Desencontros) e Rashida Jones, da série The Office.
Murray repete a atuação debochada de sempre, mas o pior é o roteiro, também de autoria de Sofia. Parece que realizadora parou no tempo e não se deu conta que o cinema vem mudando muito de uns anos para cá, seja em questões de racismo, de feminismo, de empoderamento. Sofia, lembra que você fez uma versão tão empoderada de O Estranho que Nós Amamos, três anos atrás?
Nada contra comédias escapistas, mas, vindo de quem vem, On the Rocks é o ápice da alienação. Rashida interpreta a dona de casa e mãe de duas garotas que, depois de anos de casamento, desconfia que o marido a está traindo com uma colega de trabalho. O marido, interpretado por Marlon Wayans, um ator tão expressivo quanto uma pedra, é um coadjuvante na trama.
O mote principal é a “investigação” feita pela protagonista com a ajuda de seu pai (Murray), um playboy rico, bon vivant e mulherengo. Sofia tem a pretensão de ser Woody Allen: escolhe bem as belas locações em Nova York e as músicas da trilha sonora. Seu filme, contudo, carece de originalidade, humor e empatia. Não dá para se identificar com o “drama” e o “dilema” de uma quarentona burguesa do Soho às voltas com um pai que vive metendo o bedelho no relacionamento da filha.
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