Antes de filmar A Vida Invisível, representante do Brasil no Oscar 2020, o cearense Karim Aïnouz, radicado em Berlim, rodou Aeroporto Central, que chega diretamente às plataformas digitais sem passar pelos cinemas. Pode ser visto, por exemplo, no NOW e no Looke.
Durante um ano, entre as primaveras de 2016 e 2017 (e com as estações do ano muito bem definidas e captadas), Aïnouz mostra como a Alemanha recebeu e tratou refugiados vindos da Síria, Iraque e Ucrânia, instalados provisoriamente no Aeroporto de Tempelhof, construído na era nazista e desativado em 2008. O realizador não colhe depoimentos. É um observador que fica tão longe e tão perto de seus personagens, registrados em situações cotidianas. Aïnouz, contudo, se debruça sobre uma vida: a de Ibrahim Al Hussein, jovem sírio de 18 anos que deixou a família na esperança de um futuro melhor na Europa. Sua narrativa em off, relembrando o passado, e seu destino incerto, à espera aflitiva de um visto de permanência, dão a força para mover um retrato sobre pessoas isoladas, algo semelhante ao que vivemos hoje com a pandemia do novo coronavírus.
Entrevista com Karim Aïnouz
Com tantos refugiados, por que escolheu contar a história do Ibrahim? Seguimos oito personagens por um ano. Ibrahim foi o que mais quis contar sua história. Preferi me concentrar nele porque o imigrante árabe, jovem e solteiro é sempre visto como o vilão, que vem para pegar o emprego do europeu ou jogar uma bomba.
Vocês ainda mantêm contato? Sim, o Ibrahim virou um amigo querido. Ele conseguiu o visto de permanência e trabalha num complexo de cinemas aberto em Berlim em janeiro de 2018. Ele vendia ingressos e pipoca e agora é gerente. Meu filme, inclusive, estreou lá.
O aeroporto ainda é um centro de acolhimento de refugiados? O abrigo foi desmontado em 2018, e os hangares costumam ser alugados para eventos. Todas as pessoas que estavam lá foram morar em cidades.
Que nota você daria à Alemanha no recebimento desses imigrantes? Dou uma nota alta. Houve um esforço e uma troca, já que o país precisava de mão de obra jovem. Acho que, em parte, tem a ver com a culpa da II Guerra, assim como com a vontade da primeira-ministra Angela Merkel, filha de um pastor, de receber um número infinitamente maior de refugiados do que qualquer outro país da Europa.
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