A estrela volta a brilhar
Desde que estreou no cinema e foi a grande revelação de A Hora da Estrela, em 1985, Marcélia Cartaxo fez outros trabalhos nas telas e na TV, mas nenhum deles com a força do protagonismo de Pacarrete. Ótima opção do diretor, roteirista e produtor cearense Allan Deberton de escolher essa nordestina de sotaque arretado para o papel principal e, finalmente, dar de volta a marcélia, de 57 anos, um posto de destaque na filmografia brasileira.
Não à toa, Pacarrete levou quase todos os prêmios no Festival de Gramado 2019, incluindo melhor filme, direção, atriz, ator coadjuvante (João Miguel) e roteiro. Na trama, Pacarrete (Marcélia) é uma bailarina sonhadora que, na cidade de russas (terra natal do realizador), é tida como a “maluquete” do pedaço. Ela se veste com roupas vintage, tem o TOC de deixar a calçada de sua casa sempre limpa, fala expressões em francês e sente uma paixão platônica por Miguel (João Miguel), o dono de um bar que é casado.
Nas comemorações de aniversário de russas, ela se prepara para uma apresentação de balé clássico. só que a secretaria de Cultura quer algo mais popular e deixa Pacarrete de escanteio. O roteiro transita muito bem entre o humor (com a atuação divertida de Marcélia) e o drama (a solidão, o ressentimento e a desilusão da personagem). Pacarrete é um tipo único, fruto das lembranças de infância de Deberton, que leva às telas uma história singela em que a dura realidade de hoje contrasta com o imaginário idealizado pela protagonista, simbolizado na fascinante cena final.
Perdida no Japão
Filha do cineasta catarinense Rogério Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha, A Mulher de Todos e Copacabana Mon Amour), que morreu em 2004, e da atriz e diretora Helena Ignez (A Moça do Calendário), Djin Sganzerla estreia como realizadora no longa-metragem Mulher Oceano. Ela também faz papel duplo. Hannah é escritora, casada com um diplomata e se muda com o marido para o Japão. Por causa de um bloqueio criativo e, em atritos com o companheiro, procura um autor japonês para recolher ideias para seu próximo livro.
A mesma trama traz a história de Ana, funcionária de um banco que está prestes a fazer uma travessia a nado do leme ao Pontal, no litoral do Rio de Janeiro. Djin demonstra um ótimo domínio cênico e seu filme se destaca pelo visual, sobretudo nas cenas filmadas nos mares. Já o roteiro, que também é de sua autoria, patina em várias direções. Pouco se aprofunda na crise conjugal e apenas rascunha a realidade de octogenárias que mergulham no Japão — isso, sim, daria um bom documentário.
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Publicado em VEJA São Paulo de 02 de dezembro de 2020, edição nº 2715