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Emily em Paris: os franceses têm razão em detonar a nova série da Netflix

Embora seja divertida e um grande sucesso no Brasil, o seriado não agradou na França

Por Miguel Barbieri Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
7 out 2020, 15h44
Lily Collins em cena de Emily em Paris
Lily Collins em cena de Emily em Paris (Divulgação/Divulgação)
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Vamos fazer uma brincadeira de faz-de-conta? Imagine que um roteirista vá fazer uma série que se passa em São Paulo. E qual o estereótipo do brasileiro nos Estados Unidos? Nós gostamos de futebol, as mulatas sambam de biquíni nas ruas e, nos últimos anos, a violência tomou conta dos noticiários. A série ficou pronta e se chama Emily em São Paulo. E é sobre uma jovem especialista em marketing de Chicago que vai trabalhar numa agência da capital paulista para ensinar os funcionários paulistanos como se usa as redes sociais. Ninguém no escritório fala inglês e nós somos vistos como um bando de incompetentes.

Andando pela Avenida Paulista, a americana Emily cruza com garotos jogado bola no vão livre do Masp. Ao descer a Rua Augusta, ela observa que as mulheres estão de biquíni e sambando na porta dos bares e, chegando à Praça Roosevelt, um moleque rouba seu celular e sua bolsa. Gostou da imagem de São Paulo na série? Definitivamente, não! E é mais ou menos isso que os franceses estão notando em Emily em Paris – e também detonando a nova série da Nefflix.

O site AlloCiné, que reúne críticas de vários veículos e opiniões dos internautas, dá uma ideia da recepção na França. A Telérama a vê “como uma série muito açucarada e cheia de estereótipos”. E o Teléstar também reclama dos “estereótipos relacionados a Paris” e dá como exemplos o “quarto de empregada” onde Emily mora, que, absurdamente, tem mais de 20 metros quadrados, e um buquê de rosas que custa 5,60 euros. O público também faz coro aos descontentes, conforme as opiniões que recolhi abaixo do site do AlloCiné.

“Os franceses são descritos como arrogantes, sujos, preguiçosos, perversos, amargos…”.

Emily em Paris é uma versão fantasiada e elegante de Paris de acordo com os americanos para americanos (e o escritório de turismo de Paris)”.

“Série embaraçosa, imagem completamente errada de Paris. É ridícula e mal interpretada. Como se Paris fosse moda, romance e croissants. Nada disso!”.

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“É uma série feita por americanos para americanos (e outros). Como de costume, encontramos ali seu fascínio por Paris, mas sua aversão pelos franceses”.

“Os clichês são mais sobre os franceses. Resmungões, paqueradores, preguiçosos, fumam constantemente… são várias as falhas!”.

“Série destinada ao mercado externo, graças à imagem dessa utópica Paris”.

“Roteiro ruim, clichês sobre parisienses e inconsistências entre a vida real em Paris e a série”.

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“Série sem sentido, muito mal interpretada, clichês pior do que segredinhos entre vizinhos e uma má imagem dos franceses, vistos como racistas”.

“É um acúmulo de clichês sobre os franceses: arrogantes, preguiçosos, sujos e mesquinhos. Emily é a jovem americana que vai ensiná-los sobre a vida. E o roteiro é risível”.

“O CEO que dá um beijo na nova funcionária, pessoas fumando nos escritórios, a babá de salto agulha e minissaia de lantejoulas, a desagradável padeira, a baguete e, é claro, o camembert… É a caricatura dos franceses”.

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Vamos, agora, à minha opinião

Darren Star é o criador da emblemática Sex and the City e também de Emily em Paris. São produtos incomparáveis, porém com algumas semelhanças, como os figurinos de it girl, os relacionamentos amorosos complicados e as mulheres de atitude. Emily, interpretada pela gracinha Lily Collins, mora em Chicago e trabalha com marketing. Grávida e impossibilitada de aceitar o convite, a chefe de Emily dá à moça a oportunidade de passar uma temporada em Paris para turbinar as redes sociais de uma empresa que atua para grandes marcas. A garota vai e, ao contrário do que pensava, é recebida friamente, sobretudo por não falar francês. Encontra, assim, um novo mundo de obstáculos.

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A diretora da agência é arrogante, há comerciantes esnobes e homens sem vergonha de tirar uma lasquinha dela. Mesmo com todas as dificuldades, Emily está encantada. Seu vizinho é charmoso, os clientes com quem trabalha são atenciosos e a capital francesa se mostra a mais linda e fotogênica do planeta. Cada imagem é uma selfie! E talvez seja esse o maior trunfo da série. Paris poucas vezes foi tão bem fotografada e explorada numa produção 100% americana. Há, sim, pontos turísticos, como o Arco do Triunfo e a Ópera de Paris, mas tenta-se fugir do lugar-comum em locações na Place de l’Estrapade e na Île Saint-Louis.

A história tem mais altos do que baixos e vai muito bem, com momentos bem divertidos, até a metade (são dez episódios com menos de meia hora cada um). O enredo dá uma bola dentro ao focar o universo das influenciadoras digitais de moda e, por outro lado, abusa nos estereótipos, seja o do estilista afetadérrimo, seja o do pedante parisiense intelectual.

Ou seja: há, sim, muitos estereótipos e, por isso, concordo com os franceses. Morei um ano em Paris e já voltei diversas vezes à capital francesa. Nem todos os parisienses são assediadores, nem todos são arrogantes ou pedantes, nem todos são infiéis, nem todos são mal-humorados… Isso é generalizar – assim como se generaliza que o Brasil é o país do samba, do futebol e do Carnaval.

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