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Daniel Santiago, diretor de Coração do Brasil, conta detalhes do documentário

Daniel Santiago, paulistano de 59 anos, passou as décadas de 80 e 90 produzindo comerciais. Sempre gostou de cinema e, entre uma publicidade e outra, produziu longas-metragens famosos, como Pixote e Eles Não Usam Black-Tie, além da importante passagem pelo programa Globo Repórter, que lhe deixou com comichão de fazer seus próprios documentários. Em 2004, […]

Por Miguel Barbieri Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 11h01 - Publicado em 20 abr 2013, 14h47
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  • Daniel Santiago, paulistano de 59 anos, passou as décadas de 80 e 90 produzindo comerciais. Sempre gostou de cinema e, entre uma publicidade e outra, produziu longas-metragens famosos, como Pixote e Eles Não Usam Black-Tie, além da importante passagem pelo programa Globo Repórter, que lhe deixou com comichão de fazer seus próprios documentários. Em 2004, foi a vez do média-metragem Família Alcântara. Agora, lança seu primeiro longa, Coração do Brasil, sobre uma expedição que refez o trajeto dos irmãos Villa-Bôas para demarcar o centro geográfico do Brasil, em 1958.

    Daniel Santiago: o diretor demorou quatro semanas para chegar ao centro geográfico do Brasil

    Quem teve essa ideia maluca de refazer a expedição 50 anos depois? Conheci o Sergio Vahia de Abreu em 2008. Ele tinha ido várias vezes ao Xingu, conhecia bem a região e acompanhou os irmãos Villas-Bôas na expedição de 1958. Vahia estava pronto para refazer o trajeto cinquenta anos depois. Eu quis aproveitar a efeméride, montei uma equipe e contatamos por email o cinegrafista Adrian Cowell, que também havia participado da pioneira aventura. Ele aceitou o convite de ir conosco. Localizamos também o cacique Raoni, que também estava lá quando foi demarcado o centro geográfico. O filme só faria sentido se os três estivessem no filme.

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    Veja o trailer e o que eu achei do filme aqui

    Qual foi o maior perigo que passaram? Foram quatro semanas de viagem por rios, passando por aldeias indígenas e dormindo ao relento. Mas o maior perigo foi quando chegamos a uma aldeia no rio Xingu e nos disseram que não poderíamos passar a noite lá. Seis índios nos receberam armados até o pescoço e nos expulsaram. Também nos ameaçaram dizendo que, se ficássemos, receberíamos uma “visita” à noite. Fomos embora no meio de uma tempestade pavorosa e o rio começou a se agitar. Foi quando avistamos a luz de uma lanterna na mata. Eram índios de outra tribo que nos convidaram para se instalar em sua aldeia.

    Dá para concluir que existem índios menos e mais perigosos? Acredito que existam índios menos e mais civilizados – estes últimos vivem perto dos municípios. Índio com ou sem roupa continua índio. Ele compra coisas no comércio, volta para sua aldeia, mas continua índio. Nós é que precisamos aceitar esse estado de espírito deles. Índio reivindica muito e, se ele não reclamar, corre o risco de deixar de existir. Como a taxa de mortalidade entre eles caiu em relação ao passado, a população de índios está crescendo muito.

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    Acredito que você tenha filmado bem mais do que a duração do filme, de 86 minutos. Sim, foram 60 horas de gravações e custou 600 mil reais. Mas acredito que tenha entrado em Coração do Brasil tudo que eu queria. Se fosse maior, seria repetitivo. Foi preciso separar o joio do trigo e fazer um recorte. Quis mostrar como foram as expedições de 1958 e a de 2008 e como era a vida dos índios naquela época e como está agora.

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    Como foi usar as imagens que o próprio Adrian Cowell fez naquela época? O acervo do Adrian, que infelizmente morreu em 2011 sem ter visto o filme pronto, é fabuloso. Parte de seu legado pertence ao Instituto de Antropologia da PUC, de Goiás. Tive que pagar pelo uso das imagens. Cada minuto, custou 1800 reais. Usei também imagens da expedição Roncador-Xingu, compradas na Universidade da Pensilvânia. Lá, o primeiro minuto custa 300 dólares; depois, baixa para 100 dólares. É muito caro fazer documentário histórico no Brasil. No meu próximo filme, só vou usar material de fora.

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    Vahia de Abreu, Adrian e o cacique Raoni: reencontro 50 anos depois

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    Qual será o tema? Será sobre a Fundação Brasil Central, órgão que nasceu em 1943 para desbravar o oeste do Brasil. Quando terminamos Coração do Brasil, percebemos que havíamos dado todo o nosso dinheiro aos índios. O único jeito de chegar até Goiânia e, de lá, tomar um avião, era de ônibus. Durante a viagem de 26 horas, partindo de São José do Xingu, sentei ao lado do Adrian e ele me contou detalhes que vão estar no filme.

    Depois de tantos anos e sacrifícios, não é frustrante ver seu filme em poucas salas e em poucos horários? É um documentário, tem um público específico, sobretudo para quem gosta de geografia e história. A exibição no festival É Tudo Verdade foi muito importante e deu visibilidade. O importante é que ele fique algum tempo em cartaz para que as pessoas possam conhecer o trabalho, não importa se numa única sessão. Haverá também o lançamento em DVD e Blu-ray e exibição na TV. Acredito também que tenha potencial para ser vendido no exterior.

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