Nome por trás do sucesso da série Euphoria, Sam Levinson dirige Malcolm & Marie, na Netflix, como uma grande discussão de relação em preto e branco.
As difíceis conversas ganham duas frentes. Uma delas foca justamente o que está sendo feito aqui nestas linhas: a crítica de cinema. Malcom, personagem de John David Washington, é um diretor que volta da estreia de seu grande primeiro filme cheio de soberba e argumentos para rebater qualquer declaração contrária à sua obra e às suas escolhas, seja na vida, seja na arte. Deslumbrante em um vestido de gala, Marie (a atriz Zendaya, em performance impressionante) escuta a tagarelice do companheiro enquanto prepara um macarrão com queijo de caixinha. A aparente resignação diante do autocentrismo dele segue em direção à fúria depois de ela queixar-se de não ter sido citada no discurso de agradecimento de Malcolm.
É preciso fôlego para acompanhar o mergulho de Marie em todos os incômodos não ditos da relação. Sabe aquela fragilidade confidencializada durante um momento de cumplicidade? É ela mesma que ambos sabem escolher a dedo para machucar o outro no momento da briga. A crueldade assusta ainda mais pela aparência de normalidade que ganha.
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Publicado em VEJA São Paulo de 24 de fevereiro de 2021, edição nº 2726