Antonio Fagundes está com 64 anos e se sentindo um quarentão. A disposição vem de três lados: a TV, o cinema e o teatro. No Tuca, em São Paulo, divide o palco com o filho, Bruno Fagundes, em Tribos. Afastado das telas desde A Mulher do Meu Amigo (2008), é o protagonista do terror Quando Eu Era Vivo, que estreia hoje. No mesmo dia, despede-se de César, o polêmico, infiel e homofóbico médico de Amor à Vida. Conversei com Fagundes sobre um pouco de tudo isso.
Você está cercado de jovens no teatro (com Bruno), na televisão (com Mateus Solano) e no cinema (com o diretor Marco Dutra). Como é conviver com essa nova geração? Eu sou uma criança e você não sabe (risos). Na verdade, há uma turma cheia de gás e conhecimento. Mas, como dizia o Millôr, a juventude é uma doença que passa com o tempo. Os jovens precisam ter conteúdo e essas pessoas têm. Trabalhar com eles é uma troca extraordinária. Eu aprendo e espero que tenha alguma coisa para passar para eles.
O que aprendeu com o diretor Marco Dutra em Quando Eu Era Vivo?
Ele domina o set e sabe exatamente o que quer. Tem uma equipe muito talentosa e tudo caminha muito fácil. O filme foi de baixo orçamento, filmamos em dezoito dias e o resultado não deve nada a nenhuma superprodução bem acabada daqui.
+ Leia o que eu achei de Quando Eu Era Vivo
Tudo foi filmado dentro do apartamento? Sim, exceto algumas cenas na rua e a sequência do hospício. O apartamento, na Avenida São Luís, tem uma estranheza, é muito antigo, tem uma história. É como se fosse um cenário.
Você gosta de ver filmes tanto quanto gosta de ler? A leitura é mais fácil de você se impressionar. Num filme, o diretor tem de ser um mestre para pregar um susto. Eu gosto de filmes de terror porque quero ver até que ponto o cineasta é capaz de me envolver na história.
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Tem filmes de terror preferidos? Acho o escritor Stephen King um cronista da classe média americana como nenhum outro. Ele é insuperável. Já fizeram diversos filmes baseados em seus livros, mas poucos são bons. Embora King não goste de O Iluminado, acho que Stanley Kubrick filmou muito bem. Outro diretor que acertou a mão três vezes foi Frank Darabont, em Um Sonho de Liberdade (1994), À Espera de um Milagre (1999) e O Nevoeiro (2007).
Por que tanto tempo afastado do cinema? Para quem tem 48 anos de idade, cinco anos não é nada (risos). O problema é que difícil conciliar as agendas. Para fazer cinema, preciso parar com as outras atividades. Eu faço muito teatro e isso me prende na cidade. Por trabalhar em TV no Rio de Janeiro, não fico a semana toda num lugar só. O (produtor) Rodrigo Teixeira conseguiu adequar nossas agendas em dois filmes: Quando Eu Era Vivo, e Alemão, que estreia em março.
O que acha dessa moda de comédias populares? Já fiz algumas e não tenho nada contra. Mas acho que vale a pena investir em outras coisas. Tivemos a fase do cangaço e só faziam filmes de cangaceiros; depois, vieram as pornochanchadas… Desse jeito, o gênero desgasta e não contribui para nada. As comédias de hoje podem cair no marasmo e é preciso tomar cuidado com isso.
Como acha que o público que te vê na novela vai reagir ao assistir ao terror Quando Eu Era Vivo? Aquele que ainda me vê como um ator da Globo é muito preguiçoso. É uma pessoa que não foi ao cinema nos últimos quarenta anos e nem ao teatro nos últimos 48 anos. Até mesmo na TV, não faço sempre o mesmo personagem.
O César, de Amor à Vida, foi um papel importante na sua carreira? Sempre é. O Walcyr Carrasco foi muito esperto e ligado. Montou uma história muito rica e cheia de núcleos que deram certo. Ele acertou muito bem. Colocou na sala de jantar, de um jeito que eu não me lembro de ter visto antes e com uma força muito grande, a questão da homofobia. Além de entreter, a novela levantou uma discussão muito importante.
Dá para escolher entre cinema, teatro ou TV?
Se eu pudesse, conciliaria os três. Mas numa única escolha seria o teatro, que é a pátria do ator.
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