Que roupa devo usar na balada? Na Tardezinha Naturista, essa preocupação não existe — e xales, pochetes e anéis penianos são as únicas peças à vista. Após o lançamento da festa na capital, uma nova edição acontece em 16 de julho, sábado, com os DJs Tiago Gomes e Naturista TX, apresentação dos dançarinos Sansão e Grayce Romim e Carnaval de rua como tema.
Na Spicy Club, em Moema, mais de 100 pessoas lotaram a casa no último mês e prometem retornar ao evento promovido por adeptos do naturismo — a filosofia de viver em harmonia com a natureza e, entre outras coisas, ficar pelado.
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A diferença entre naturismo e nudismo é sutil: “naturismo” é o termo preferido das pessoas que gostam de ficar nuas em locais públicos e defendem a liberdade e quebra de preconceitos; “nudismo” pode ser usado nesse mesmo contexto, mas está menos ligado aos aspectos ideológicos. “O conceito vem de Adão e Eva. Assim como eles, somos todos pecadores”, filosofa Roberto Passero, um dos organizadores.
No térreo, servido por chapelaria, lounge com mesinhas e pista de dança, o pecado da luxúria é terminantemente proibido. “Aqui embaixo não vai acontecer nada, mas se alguém quiser algo mais caliente no andar de cima, eu não vi e não sei de nada”, admite. “Assim dá para atender os dois grupos: o ‘raiz’, que não faz sacanagem, e o que tem essa vontade.”
Em resposta à reportagem, Paula Silveira, presidente da Federação Brasileira de Naturismo, rebate: “A tarde nudista em Moema nada tem a ver com naturismo. Não temos vínculo com o lado sexual”. Apesar do nome, essa é uma festa puramente nudista e a próxima edição já foi rebatizada com o termo correto (fica, então, Tardezinha Nudista).
Na estreia, em junho, caravanas de cidades próximas chegaram no início da noite e correram logo para os fundos. De lá, todos voltam pelados com o saco na mão — o descartável, usado para guardar os pertences. Senhores na faixa dos 60 anos circulam pelo bar com um copo de uísque e se acomodam nos sofás vermelhos da lateral. Mais tarde aparecem os casais e, por último, os solteiros mais jovens. Para todas as idades, o dress code favorito parece ser a toalhinha nos ombros e a depilação à brasileira: quase nenhum pelo.
As bexigas gigantes com a palavra “love” e o par de Crocs azul berrante de um dos frequentadores poderiam atrair muitos olhares, mas aqui o foco é outro. Os casais que dançam calorosos ao lado do pau de pole dancing dominam a pista até a chegada da dançarina, que se apresenta pendurada em uma corda branca. Um naturista cadeirante se aproxima bem na hora do fervo e em seguida vem o go-go boy e dançarino Sansão, cuja atração principal envolve subir no balcão e balançar o quadril, a cintura e o seu pacote completo.
O frio paulistano de 17 graus no sábado, em 11 de junho, não encolheu o número de frequentadores e alguns aquecedores ajudavam a esquentar os ambientes, mas uma roda de amigos ocupava a área aberta do fumódromo como se fosse verão.
(Conforme o público aumenta, não pega bem estar vestido e, para acompanhar, o repórter também tira a roupa. “Ai, que tudo!”, comemora Silvana Valadão, adepta e esposa de um dos promoters, ao me ver saindo do banheiro. De tênis branco, meias estampadas e colar de pérolas, circulei pela pista lotada e me perdi no primeiro andar labiríntico, repleto de camas, salas escuras e muito homem pelado. Mulheres ainda eram minoria.)
Os grupos logo se dividem e fica claro quem é naturista “raiz” e quem planeja ficar por lá até mais tarde — assim que essa festa acabar, o espaço retorna ao seu formato natural de casa de suingue. Acostumados com encontros privados no litoral e no interior do estado, os membros da comunidade naturista serão acolhidos todo mês na casa noturna comandada por Fabio Leandro Blanco, que abraçou a ideia como alternativa para esses grupos com a chegada do inverno. “Abri a Spicy com o objetivo de acolher o público do suingue, mas fiquei fechado na pandemia e não tivemos forças para retornar apenas com essa proposta”, explica. Se depender dele, em breve a atração será algo semanal. “Quem veio na primeira achou que o tempo foi curto e às 10 horas da noite, quando encerramos, tudo estava só começando.”
Segundo o proprietário, o clima das duas festas é bem diferente: no esquenta do suingue, homens não podem nem ficar sem camisa. “Nessa próxima, quero unir mais os dois grupos. Já avisei: pelo menos até as 11 horas da noite vai ter gente pelada aqui na pista.”
Alameda dos Pamaris, 42, Moema, ☎ 96441-3032. ♿ 16/7, 15h/23h. R$ 80,00. sympla.com.br