Após décadas de disputas imobiliárias e discórdias entre vizinhos, a abertura do Parque Augusta está prevista para sábado, 6, com um jardim francês histórico, as ruínas de um edifício do início do século XX, nova arquibancada e até cachorródromo.
A origem do imbróglio envolvendo o local é tão antiga quanto as ruínas reveladas no novo projeto. Vazio há cinquenta anos, o espaço abrigou entre 1907 e 1969 o Colégio Des Oiseaux e a Escola Santa Mônica, ambos demolidos em 1974 — desde então, cogitava-se construir um supermercado e o Museu da Música Popular Brasileira por ali. Em 2002, quando o Plano Diretor passou a permitir a implantação de um parque, o endereço entrou para valer no radar de ativistas e moradores dos entornos.
Em 2015, o Conpresp aprovou a construção de três torres residenciais com a condição de que a área verde local, tombada, fosse transformada em parque. A decisão rendeu protestos, integrantes de coletivos pró-parque invadiram o terreno em janeiro daquele ano e abriram o local ao público. A reintegração de posse ocorreu meses depois.
Entre as ruas Augusta, Caio Prado e Marquês de Paranaguá, o terreno de 23 000 metros quadrados pertenceu às construtoras Setin e Cyrela, mas foi transferido à prefeitura em abril de 2019, após uma intervenção do Ministério Público. As obras começaram em outubro do mesmo ano, mas sofreram várias paralisações, uma delas pela suspeita de materiais arqueológicos na área.
Segundo o arquiteto do projeto, Samuel Kruchin, 66, o local virou até alvo de lendas urbanas. “Dizia-se que ali havia uma floresta da mata atlântica, que nunca existiu, e caminhos arqueológicos de antigas populações, coisa que a pesquisa também não mostrou”, conta. Mas pelo menos uma novidade é real: a descoberta e o restauro de um jardim centenário de árvores exóticas, possivelmente mais antigo que o Trianon e o jardim francês do Museu do Ipiranga. “É um marco histórico, que agora se conecta com o espaço contemporâneo.”
A portaria do colégio também foi reconstituída e o muro de tijolos na Augusta, outro alvo de debates, foi mantido. “Nosso maior desafio foi essa conciliação com os elementos pré-existentes e as diferentes visões que vários grupos tinham do parque.”
Em dezembro, Samuel assume outra grande empreitada na cidade: a continuidade do restauro no Palácio da Justiça, no centro. “Serão pelo menos dez meses de trabalho, para evitar os riscos que vários prédios históricos têm sofrido.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 10 de novembro de 2021, edição nº 2763