Se o azulão das praias e a beleza estonteante do litoral não forem suficientes para tirar um paulistano de casa, Búzios ainda reserva outros atrativos. Com muita oferta de restaurantes e hospedagens, a charmosa Armação dos Búzios atrai visitantes nesta época do ano, quando a temperatura fica entre os 18º e 25º, sem beirar o fervo de turistas que passam por lá durante o verão.
Segundo uma pesquisa feita pela plataforma Omnibees, esse é um dos destinos mais desejados por brasileiros até o fim de julho e só fica atrás das capitais Rio e São Paulo.
Enquanto companhias aéreas como Azul, Latam e VoePass negociam voos diretos para o aeroporto da cidade (sem previsão de datas de lançamento), o caminho para os paulistanos ainda deve ser feito pelo aeroporto do Galeão ou pelo Santos Dumont, no Rio. De lá, são mais três horas de estrada para chegar à península de praias de água translúcida (e um tanto gelada) que brilha em tons de azul-turquesa.
No lugar do sotaque carioca, é o espanhol que mais se ouve nas ruas dessa região, frequentada há décadas pelos argentinos — em 1964, Brigitte Bardot se hospedou em uma casa na Praia de Manguinhos por alguns dias e acabou revelando Búzios para o mundo. Foi nesse período que políticos, artistas e estrangeiros de classe alta começaram a descobrir o lugar e ali se instalar com novas casas e negócios.
A presença da atriz francesa inspirou uma estátua em sua homenagem, assim como o nome da Orla Bardot, continuação da Rua das Pedras, onde até hoje se concentra boa parte da vida noturna. Nos últimos anos, a via passou a dividir protagonismo com o Porto da Barra, outra área repleta de restaurantes e bares — como o Belli Belli e o Anexo — e perfeita para apreciar o pôr do sol.
“O destino foi se divulgando entre os argentinos e é talvez tão conhecido por eles quanto Punta del Este”, diz Luisa De La Maria Montenegro, proprietária de um dos hotéis mais antigos e sofisticados da cidade, o Casas Brancas Hotel Boutique & Spa, que começou pelas mãos de seus pais quando Búzios era uma remota vila de pescadores.
A partir de uma pequena pousada, a construção foi ampliada até chegar nas 34 acomodações atuais, quase todas com configurações distintas.
Para celebrar os 50 anos de história em 2024, a empresária coordena com o irmão, Santiago Bebianno Montenegro, algumas mudanças. Instalada abaixo do hotel e voltada para a Orla Bardot, a 74 Osteria funciona desde outubro do ano passado com receitas italianas.
O novo endereço é um complemento ao 74, restaurante principal no terraço do hotel. Ambos são comandados pelo chef executivo Filipe dos Santos com o mixologista Luis Fernando Bueno e a confeiteira chilena Jenifer Ortega.
Do menu recém-lançado pela nova equipe, fazem sucesso opções como a porção de coxinha de pato (48 reais, quatro unidades) e a almofada de chocolate, sobremesa de ganache de baunilha, bolo cremoso de brigadeiro, geleia de frutas vermelhas, crocante de chocolate e sorvete de goiaba (47 reais).
Na carta de drinques, Luis se inspirou nos integrantes mais antigos da casa para criar combinações como La Divina, feita com tequila Don Julio, licor herbal, cordial de pimenta, cupuaçu com abacaxi e um pedacinho de chocolate branco na borda (48 reais).
“Dona Amalia, precursora do hotel, era chamada de La Divina pelos mais próximos por ter um temperamento ao mesmo tempo dócil e explosivo, que representei com a lâmina de chocolate com pimenta”, explica Luis. “Para a sua característica mais marcante, a hospitalidade, escolhi o sabor do cupuaçu e do abacaxi. A tequila vem da sua bebida favorita, a margarita.”
Na mesma toada, o Concept Hotel & Spa, aberto em 2022, ampliou o número de suítes, de 13 para 25, reformulou o menu do restaurante The Jul’s e inaugurou o Sushi 11, de culinária japonesa. Nos dois endereços, não hóspedes precisam fazer reserva.
A pulsante cena gastronômica da região ainda é composta por veteranos como o Bar do Zé, aberto em 1999, e a Chez Michou, clássica creperia da Rua das Pedras em funcionamento desde 1983.
E se destacam craques da cozinha, como o chef argentino Gustavo Rinkevich, que chegou a Búzios em 2009 para abrir o Rocka Beach Lounge, na Praia Brava, e o chileno Félix Sanchez, à frente do Místico, na Pousada Abracadabra. Ambos aproveitam os produtos locais e frutos do mar frescos em seus pratos.
Alguns eventos também trazem movimento o ano todo, como o Degusta Búzios, maior festival gastronômico da Região dos Lagos. No inverno deste ano, está agendado para acontecer de 2 a 10 de agosto, com programação musical e comidinhas servidas por dezenas de estabelecimentos locais, que montam barraquinhas do lado de fora para receber os visitantes com pratos em porção degustação e preços mais camaradas que os cardápios originais.
E os casamentos, alimentados pela onda dos destination weddings, são frequentes. Fundado há vinte anos pelo casal Margareth Rocha e Ricardo Pires, o bufê Rappanui Gastronomia abocanhou essa demanda.
“Amamos trabalhar por lá e até temos uma base na cidade, afinal, realizamos cerca de seis casamentos por mês”, conta Margareth.
Com jantares privados feitos para empresários e famosos, Samantha Laurindo dirige o bistrô Amaré há três anos e já recebeu nomes como Ingrid Guimarães, Ivete Sangalo e Toni Garrido.
Em busca de trabalho após superar um câncer no útero, ela aceitou uma oportunidade como cozinheira de festa sem saber preparar nada.
“Fiz um bobó de camarão com uma amiga me guiando por mensagem de telefone”, relembra a capixaba, moradora de Búzios há dezoito anos. Depois do improviso, estudou gastronomia e até foi pupila de Claude Troisgros — que também teve uma breve passagem por Búzios, com um bistrô aberto por pouco tempo nos anos 1980.
“O bistrô hoje funciona muito no boca a boca, por indicações, e só sirvo comida brasileira com técnicas francesas. É um lugar para passar várias horas, mas os casamentos ainda são minha atividade princi- pal. Faço em média um por fim de semana”, contabiliza. “Búzios temmuitas estruturas de eventos e todos os fornecedores se conectam.”
Para fazer compras, grifes de moda como Animale, Lenny Niemeyer, Richards e Sobral ficam todas nas cercanias da pulsante Rua das Pedras, a mais famosa via de Búzios. É lá que está até hoje a primeira unidade da Osklen, inaugurada em 1989.
Criada um ano antes como loja de casacos de neve, a marca ganhou o perfil praieiro (e buziano) após a inauguração no balneário.
“Búzios é um marco para a Osklen. Pessoas de várias partes do mundo vêm para conhecer nossa forma de viver em meio à natureza”, descreve o fundador e diretor criativo, Oskar Metsavaht. “Sem dúvida é uma cidade que nos anos 90 representava muito um estilo de vida em que a simplicidade era o luxo. E hoje, quase trinta anos depois, continua refletindo um espírito livre e cosmopolita.”
Uma das novas apostas para a região é o complexo Casa Búzios, empreendimento posicionado em frente à Praia Rasa. Beach club com áreas de lazer, como spa, saunas, academia, piscinas e lagos, o local deve ser entregue em 2026 e terá um condomínio residencial com casas de duas a quatro suítes à venda.
Outro projeto promissor é o Nas Rocas, hotel do grupo Resid, que tem o chef Alex Atala entre os sócios. Nos moldes de clubes priva- dos, o novo negócio planeja abrir hotéis exclusivos em locais como Fernando de Noronha, Trancoso, Paraty e Amazônia. Construído na Ilha Rasa em uma área de quase 120 000 metros quadrados, o empreendimento de Búzios será o primeiro, previsto para 2025, e terá várias áreas privativas de praia, além de oito bares e restaurantes, todos assinados por Atala.
As ondas fechadas para membros serão uma exceção às 23 praias espalhadas pelo município, como a Praia dos Ossos e a Azedinha, ambas próximas à Orla Bardot — basta caminhar por alguns minutos, passar pela Igreja de Sant’Anna e subir uma ladeira.
Ferradura e Tartaruga atendem aos casais e famílias em busca de estrutura de quiosques, e opções como Brava e Geribá atraem surfistas pelas ondas mais altas e agitadas.
O mapa inclui até praia de nudismo — a Olho de Boi, acessível após uma trilha de meia hora a partir da Praia Brava — e outras mais afastadas, pouco exploradas pelos turistas, como a Praia de Tucuns e a Praia do Forno, bem reservada e com areia em tons avermelhados.
Se depender da lista de novidades, o fluxo de turistas só deve aumentar nos próximos anos. “Búzios se desenvolveu bem em comparação a outros balneários do Brasil, e as restrições urbanísticas não permitem a chegada de prédios”, avalia Luisa. “Depois da Covid, pessoas das metrópoles decidiram se mudar para cá, e esse número maior de residentes mantém ne- gócios abertos o ano todo.” São os bons ventos buzianos.
O repórter viajou a convite do Casas Brancas Boutique Hotel & Spa
Publicado em VEJA São Paulo de 21 de junho de 2024, edição nº 2898