Em Bordeaux, no sudoeste da França, fica o início e o fim da jornada de Paloma Danemberg. É de lá que sai o contêiner cheio de “histórias” garimpadas a dedo pela carioca. Antiquária e fundadora da marca AD.Studio, com loja em São Paulo, ela resgata móveis e antiguidades para revendê-los com roupagem contemporânea — uma mesa de ourives portuguesa de 1900, por exemplo, nas suas mãos se transforma em minibar ou aparador. Pela primeira vez, os bastidores dessas incursões, que costuma fazer por países europeus, serão exibidos em uma série documental.
Dividida em quatro episódios, e dirigida por Carolina Ivancevic e Gabriel Tesserolli, Colecionadora de Histórias foi gravada durante a sua última visita à França, passando pela Normandia e por cidades como Tours, na região central.
Em vinte dias de estrada e muitas paradas, hotéis estrelados são a exceção — como aconteceu quando foi convidada a se hospedar em um castelo em meio às vinícolas de Saint-Émilion.
+ Leilões, descontos e viagens: como é a vida de um antiquário em São Paulo
“Em vez de comer steak tartare e patê, costumo ir ao restaurante do caminhoneiro, apreciando o prato único e o que tiver” diverte-se. Ela mesma dirige um caminhão para transportar os móveis e negociaos preços de cada item com os vendedores em museus e feiras de antiguidades. “Você pensa que me ajudam a carregar? De jeito nenhum!”
Um dos momentos da série se passa em Rouen, no norte, onde foi recebida no Museu da Educação a portas fechadas. “Por mim, teria comprado o museu inteiro”, diz.
Sua curadoria prioriza peças do fim do século XIX e início do XX e cada roteiro envolve muitas pesquisas antes de embarcar. Mas o destaque principal da produção estará nas pessoas com quem interagiu pelo caminho.
+ Romeu Felipe terá salão de dois andares no Iguatemi São Paulo
“O francês é extremo: ou vai ser um fofo, a ponto de te receber em casa e só deixar sair depois de comer cinco croissants, ou vai te mandar embora caso não goste de uma oferta”, conta.
Neta, filha e irmã de antiquários, Paloma vive imersa em objetos centenários desde pequena e sempre acompanhou o pai, Arnaldo Danemberg, nas viagens e leilões pela Europa.
“Quando comecei a garimpar para a AD.Studio, meu pai sempre estava por perto porque ser mulher ainda era uma desvantagem competitiva. E, como já viam que era estrangeira, poderiam pensar que era uma dondoca”, reflete. “Mas faço isso desde os 12 anos e hoje me sinto mais segura.”
Para as gravações, Paloma foi acompanhada por uma equipe de três pessoas. “Visitei lugares a que só fui com meu pai quando era criança e pude ter momentos de refresco e introspecção que normalmente não consigo ter nessas viagens.”
Com estreia no dia 3 de setembro, no YouTube, Colecionadora de Histórias promete fazer o espectador afeito a um bom garimpo embarcar numa fascinante viagem em busca de relíquias.
+ Bairro de reinvenções: um guia cultural e gastronômico do Bom Retiro
Publicado em VEJA São Paulo de 23 de agosto de 2024, edição nº 2907