Após completar o mural A Mão de Deus no Minhocão, o artista Eduardo Kobra, 45, comanda a restauração de uma de suas obras em São Paulo: o grafite em homenagem a Ayrton Senna (1960-1994), na Consolação. “Meu sonho de consumo é consertar o do Oscar Niemeyer, na Paulista, que está bem feio”, confessa. “Há uma regra estabelecida na arte de rua: tudo bem se apagar. Mas depois que tive meu filho passei a refletir sobre todos os murais da cidade que não existem mais e que eu gostaria que Pedrinho pudesse contemplar.” Segundo ele, boa parte de suas criações já começou a sofrer desgastes ou foi apagada — como o Albert Einstein da Oscar Freire. “A Praça Panamericana tinha um mural de 1 800 metros quadrados que mostrava os imigrantes italianos e foi pintado de branco depois que o prédio foi alugado por outra pessoa”, lamenta. “O dono tem direito de fazer o que quiser, mas falta comunicação com o artista. Não vejo diferença entre a arte de galeria e das obras do Portinari para as artes públicas, então por que não preservar? Se for ao Egito, você vai ver que as pinturas estão boas porque tem alguém cuidando. Quer clima pior do que o deserto para manter uma pintura?”
No início da pandemia, Kobra precisou adiar vários planos, como o projeto de um mural no World Trade Center, em Nova York, e outro no Líbano, ambos previstos para serem retomados em 2021. Problemas de saúde envolvendo a descoberta de uma intolerância alimentar e refluxo também afetaram a rotina na quarentena. “Sempre sofri com intoxicação de metais pesados, com insônia, não me lembro de ter vivido bem por quinze dias inteiros nos últimos vinte anos”, revela. “Mas esses momentos têm sido mais difíceis, principalmente com a morte da minha filha, um bebê que nasceu e faleceu em seguida, logo que começou a pandemia.”
Nascido no bairro do Campo Limpo, Kobra chegou a morar por muitos anos no sobrado de sua avó, que lhe vendeu a propriedade por menos que a metade do valor. Com o sucesso internacional conquistado com seus grafites, espalhados por países dos cinco continentes, ele “migrou” para a Consolação e hoje vive na região do Jardim Paulistano. “Em trinta anos de trajetória, não consigo ver um grande momento de virada, mas várias vitórias, como quando fui contratado pelo Playcenter para ilustrar os brinquedos”, relembra. Sua identidade visual, com estética 3D e quadriculados coloridos, surgiu a partir do gosto por livros antigos. “Coleciono publicações que mostram as cidades em décadas como 1920 e 1930, em preto e branco, e decidi começar a colorir algumas dessas cenas.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 9 de dezembro de 2020, edição nº 2716.