Denise Milan estreia mostra ‘Quartzoteka’ em subsolo da USP
Artista "intérprete" das pedras organiza série de instalações previstas para acontecer até o fim do ano
Prestes a completar 70 anos, Denise Milan vive um dos momentos mais movimentados de sua trajetória artística. Pedras em diferentes estágios, formadas há milhões de anos, são o tema do seu trabalho, que será exibido na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, da USP.
Até 17 de maio, o espaço vai abrigar parte de sua “quartzoteka”, o conjunto de obras preservado em seu apartamento.
“Não é uma coleção de pedras, mas uma coleção das narrativas e inúmeras criações que existem nos subterrâneos do planeta”, define a artista, que no fim do ano visitou Dubai e chamou a atenção da família real de Abu Dhabi, para quem vendeu uma obra.
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Além da longa relação com a cidade de Chicago, nos EUA, onde em abril fará outra exposição, ela tem visitado vários países, como China, Itália e Marrocos. “O que é comum nos une. A pedra é uma linguagem universal sem fronteiras.”
E essa é uma das linguagens nas quais Denise busca ser fluente. Há mais de quarenta anos, ela atua como uma espécie de “tradutora” ao criar paralelos entre as rochas e a experiência humana — assim como nós, as pedras preciosas também passam por barreiras e etapas de formação para poder evoluir.
O próprio local escolhido para a mostra, no subsolo do edifício, é um retrato da origem desses elementos. “Cada um deles sobreviveu aos ataques colossais que aconteceram na Terra. Qual é o recado de esperança que eles trazem? Que a vida continua. E a humanidade precisa dessa mensa- gem agora.”
Dividida em oito prateleiras, a seleção inédita terá ametistas, “tablets” de sodalita, uma peça única batizada de útero magmático e cerca de quarenta livros esculpidos em quartzo — uma possível representação literal do conhecimento e das histórias que as rochas carregam.
Com curadoria de Luiz Armando Bagolin e apoio da DAN Galeria, a estreia também irá citar o poeta Haroldo de Campos, cujo livro Cadumbra, de 1997, prestou homenagem à arte e aos cristais de Denise.
A agenda da paulistana segue lotada até 2025: no Sesc Ipiranga, a instalação Entes está prevista para este semestre; a Banquete da Terra, apresentada em Veneza em 2019, terá espaço na Usina da Arte, em Pernambuco, a partir de junho; de novembro a janeiro, ela ganhará mais uma mostra no Farol Santander, com curadoria de Marcello Dantas; e será uma das convidadas para a Bienal de Curitiba, no fim do ano.
Mesmo assim, levar a quartzoteka aos olhos do público continua sendo um dos seus projetos de vida. E o período de dois meses na USP promete ser apenas o pontapé inicial para exibições futuras.
“O lema dessa exposição é ‘a pedra fala, eu escuto’. Há anos eu dizia isso e as pessoas olhavam estranho. Hoje prestam atenção”, relembra. “A Terra nos conta tudo o que nos diz respeito. Assim passamos a entender o que é respeitar a natureza.”
Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária. Estreia sexta (15). Seg. a sex., 9h/18h. Grátis. Até 17/5.
Publicado em VEJA São Paulo de 15 de março de 2024, edição nº 2884