Em um terreno de 1 000 metros quadrados, duas casas assinadas por Vilanova Artigas estão à venda na região de Campo Belo, Zona Sul da cidade. Construídas nos anos 1940, as propriedades são conectadas por um jardim e serviram como segundo lar para o arquiteto e sua esposa, Virginia Camargo Artigas.
“Quando meus pais moravam no Centro e eram namorados, essa era a casa de subúrbio para passar o fim de semana”, conta Rosa Artigas, uma das filhas. “Com ladrilhos hidráulicos, tijolos aparentes e aspectos da arquitetura popular, o projeto tem muitas características da juventude dele e das primeiras casas que fez.”
Com influências do americano Frank Lloyd Wright e espaços abertos integrados, os imóveis estão sendo anunciados por 4,35 milhões de reais no total. Por ser tombado como patrimônio histórico, o local só pode ser comprado no valor à vista, sem possibilidade de financiamento, e qualquer obra de restauro deve respeitar a versão original.
“Ele tinha o desejo de ter uma casa integrada ao bairro, sem muros, e ela permanece assim”, observa Lela Ribeiro, corretora da Refúgios Urbanos, que conduz o anúncio da venda. “Para a avaliação, consideramos fatores como a localização e comparamos com outros imóveis assinados de mesma metragem. É uma casa que recebe estudantes do mundo inteiro e acumulou muitas histórias.”
Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha e Joaquim Guedes são alguns dos nomes que passaram por lá nos anos em que a residência vivia apinhada de visitantes. “Por ser de uma geração intermediária entre (Oscar) Niemeyer e essa terceira geração de modernistas, meu pai foi professor de todos eles”, relembra. “E tem toda uma relação de amigos que ali dentro acabaram integrando os movimentos contra a ditadura.”
Pelas lembranças de Rosa, comemorações e reuniões familiares eram recorrentes na sala de jantar e no extenso jardim. “Foi sempre uma casa aberta. Fazíamos festas de arromba, dessas de acordar no dia seguinte e ter gente dormindo na grama, sem saber como chegou lá”, diverte-se.
O conjunto soma 220 metros quadrados de área construída. Até então, a construção menor era usada pelo irmão Júlio Camargo Artigas, falecido em 2019, e sua esposa, Wilma Abdalia. “E alugamos a maior para um café que funciona até hoje”, diz.
A decisão de vender, segundo ela, é também uma tentativa de encontrar compradores que preservem devidamente o passado da casa e seu valor cultural. “A cidade de São Paulo merece um espaço sobre a arquitetura paulista, que deveria ser mantido por empresários e pessoas da cultura”, acredita. “Temos uma das arquiteturas mais importantes do mundo e nenhum espaço destinado a ela.”
Publicado em VEJA São Paulo de 15 de setembro de 2023, edição nº 2859