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Em Terapia

Por Arnaldo Cheixas Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.

Correr nos torna mais inteligentes?

Há indícios de que o exercício aeróbico alivia também a depressão

Por Redação VEJA São Paulo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 20h17 - Publicado em 10 jan 2017, 12h49
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Corrida de Rua (Thinkstock/)
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Uma pesquisa árabe-egípcia publicada no início desse mês constatou o surgimento de novos neurônios no hipocampo em função da atividade física, em acordo com trabalhos anteriores de outros grupos, que demonstraram regeneração de neurônios sensoriais e neurogênese hipocampal por atividade aeróbia (mas não por anaeróbia, como musculação). O hipocampo é uma das estruturas cerebrais mais importantes para a memória e, consequentemente, para a inteligência e para o bem-estar emocional.

O mesmo estudo também demonstrou que ratos deprimidos apresentam um alívio significativo dos sinais da depressão após correrem voluntariamente em uma roda de atividades. Mas então quer dizer que basta sair correndo por aí para ficar mais inteligente e não ter mais problemas com a depressão? Não é bem assim.

O primeiro fator que deve ser levado em conta é que todos esses experimentos foram feitos com ratos que, embora tenham uma genética extremamente parecida com a da espécie humana, apresentam diferenças marcantes quando se analisa detalhadamente cada evento fisiológico. Então, quando o assunto são os fenômenos naturais, pau que dá em Chico nem sempre dá em Francisco.

Isso não quer dizer que devemos desprezar os conhecimentos gerados com o estudo de animais. Na verdade, temos apenas de ter os pés no chão e tomar cuidado com o que significa de fato cada novo conhecimento. Os estudos experimentais feitos com animais ajudam no direcionamento das pesquisas a serem realizadas posteriormente com seres humanos.

Mas digamos que o que se observou em ratos valha também para humanos; ou seja, suponhamos que a atividade física aeróbica favoreça o surgimento de novos neurônios no cérebro humano. Após essa constatação temos de lidar com uma nova questão e, portanto, um novo problema a ser investigado: o que significa ter mais neurônios no hipocampo ou em qualquer outra área do sistema nervoso?

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Embora a resposta pareça óbvia (é melhor ter mais neurônios do que menos neurônios), o fato é que não é assim. Mais neurônios podem não produzir nenhum ganho efetivo (inteligência, humor, memória…) no funcionamento do cérebro.

Por essas limitações da ciência (resultados muito específicos, restritos a uma parcela muito pequena da realidade), temos de ser cautelosos com as descobertas que diariamente aparecem nas linhas do tempo das redes sociais.

De qualquer maneira é interessante especular que podemos melhorar o funcionamento do cérebro a partir da atividade física aeróbia. Uma das hipóteses para esse possível benefício é que a atividade aeróbia estimularia a produção de novos neurônios em função do elevado fluxo de oxigênio circulando no sistema nervoso central, o que faz com que haja aceleração do metabolismo, o que não ocorre em atividades anaeróbias como os exercícios de musculação.

Isso nos induz a acreditar que a corrida (bem como qualquer atividade aeróbia) faz crescer o cérebro ao passo que a musculação só faz crescerem os músculos. Apenas pesquisas futuras poderão superar essas lacunas. Enquanto isso… pernas, pra que vos quero?

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