Mais da metade dos pacientes que atendi e atendo no meu consultório apresenta algum tipo de dificuldade financeira, não importando o tamanho da renda. Financiamentos em atraso, cheque especial, corte de serviços, penhora de bens etc. Embora haja fatores sociais que determinam as dificuldades financeiras das famílias, parte da explicação está na falta de educação financeira, ou seja, no próprio comportamento das pessoas que, por não entenderem como o sistema financeiro funciona, acabam desenvolvendo hábitos financeiros ruins e tomando decisões erradas.
Além do próprio problema financeiro, um padrão pouco adaptativo de comportamento financeiro produz outras dificuldades: sofrimento psíquico, doenças físicas, rompimento de vínculos e, em última instância, a infelicidade.
Há dois equívocos principais que fazem com que as pessoas se atrapalhem na gestão do orçamento familiar ou pessoal. O primeiro deles é não priorizar aquilo que realmente importa. De modo geral somos ensinados a trabalhar para pagar as contas, de modo que a prioridade que aprendemos são as contas de manutenção da vida. Embora obviamente seja essencial manter as contas em dia para evitar dores de cabeça, elas estão longe de ser o que realmente importa. O que de fato importa é aquilo que dá sentido à vida (momentos com a família, viagens, aprendizagens etc.).
Para que essas escolhas sejam satisfeitas, elas precisam ter espaço no orçamento como prioridade, antes das contas ordinárias de manutenção da vida. O outro equívoco no gerenciamento do orçamento pessoal/familiar é tratar coisas previsíveis como se fossem imprevisíveis. Bater o carro, precisar fazer uma viagem de última hora ou uma cirurgia… embora esses eventos possam ser considerados imprevistos na medida em que não se pode prever o quando e o quanto custarão, todos eles são previsíveis se olhados como um todo. Ou seja, os imprevistos são previsíveis uma vez que necessariamente vão acontecer em algum momento.
Aprender a administrar o próprio orçamento parece complicado porque normalmente as pessoas olham apenas o conjunto de habilidades e conhecimentos necessários para tal. Ao perceberem que estão defasadas acabam se desestimulando a aprender. A boa notícia é que há um caminho bastante eficiente a partir de onde começar: o primeiro passo para administrar bem as finanças é tomar uma decisão simples: guardar parte do que se ganha não importando inicialmente o resto.
Peço aos meus pacientes, mesmo aqueles que estão no crédito rotativo (as mudanças recentes nos procedimentos bancários não alteraram para valer essa lógica), que simplesmente guardem parte do que ganham. Quer dizer, guarde dinheiro mesmo que você tenha uma dívida! Este primeiro passo tem um poder enorme na capacidade de organização e de tomada de decisão das pessoas. Explico melhor como fazer isso no seguinte texto: uma estratégia simples para cuidar das finanças.
Um levantamento recente da Serasa identificou que apenas 3% dos consumidores afirmam ser financeiramente transparentes com seus parceiros. Aqui está a raiz das dificuldades financeiras que as famílias enfrentam. Este fator é ainda mais relevante do que a própria falta de educação financeira básica. Mesmo quem sabe cuidar individualmente de seu dinheiro precisa dialogar com o cônjuge para garantir que a família também caminhe bem financeiramente. A fidelidade financeira é tão importante quanto a fidelidade afetiva e sexual.
Logo mais poderemos conversar ao vivo (Facebook de VEJA SÃO PAULO) sobre como emoções e comportamento financeiro se influenciam mutuamente e podem determinar o bem-estar a percepção felicidade. O vídeo aparecerá aqui também depois da transmissão ao vivo. Participem para comentar e perguntar!
Outros dois textos publicados aqui no blog sobre comportamento financeiro abordam como as emoções atrapalham na compra de um carro novo e também a razão por que a escolha por compras financiadas, se não são claramente necessárias, representam um grande erro que afoga financeiramente as pessoas:
Finanças não são um bicho de sete cabeças. O começo da aprendizagem pode ser trabalhoso mas o prazer gerado por um orçamento equilibrado tem um valor infinitamente maior e que vale muito a pena. Basta dar o primeiro passo!