Em peça, Andréa Beltrão é advogada que luta contra horrores da ditadura
Monólogo, com texto de Silvia Gomez, é baseada nos diários de Mércia Albuquerque

Apesar de sua grandiosidade e importância histórica, a advogada Mércia Albuquerque (1943-2003) é uma figura pouco conhecida do público. Exaltar seu legado, e nos fazer lembrar dos horrores do regime militar, é o que propõe o espetáculo Lady Tempestade, em cartaz no Sesc Consolação.
No monólogo, Andréa Beltrão encarna, com completa entrega, a pernambucana considerada a maior defensora de presos políticos no Nordeste, sobretudo em 1973 e 1974. Sua história foi revelada somente em 2023, com a publicação de seus diários, base do excelente texto de Silvia Gomez.
Em sua jornada, Mércia deparou-se com atrocidades cometidas pelo regime contra seus clientes — os momentos em que ampara as mães das vítimas são de partir o coração — e contra si mesma. a competente direção de Yara de Novaes oferece outras camadas à história ao colocar A., que recebe o manuscrito, em diálogo com a personagem real.
Atormentada pelo que conta Mércia, A. faz seu próprio relato, criando uma ponte entre passado e presente, e indaga: o que fazer com isso? Texto, direção, interpretação, cenários, iluminação e trilha sonora (criada e operada no palco por Chico Beltrão, filho de Andréa), tudo converge para um espetáculo arrebatador, que nos lembra a todo tempo, com destaque para a cena final, que, passadas seis décadas da ditadura, o Brasil ainda não tirou seus esqueletos do armário.
(70min). 12 anos. Sesc Consolação. Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque, ☎ 3234-3000 → Qui. a sáb., 20h. Dom., 18h. R$ 21,00 a R$ 70,00. Até 6/7. sescsp.org.br.
Publicado em VEJA São Paulo de 6 de junho de 2025, edição nº 2947