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São Paulo nas Alturas

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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Novo Anhangabaú não parece promissor, mas árvore é o de menos

Gente gosta de gente, e é nessa área que prefeitura, urbanistas e tuiteiros em geral mais tropeçam

Por Redação VEJA São Paulo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 jul 2020, 20h42 - Publicado em 27 jul 2020, 17h30
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  • A foto da obra, ainda não terminada, do novo Anhangabaú, provocou gritaria nas redes. Cadê as árvores? É uma pista de skate plana com furinhos para os futuros chafarizes? Mesmo com o projeto do escritório de arquitetura Biselli + Katchborian ainda em andamento, é preciso lembrar algumas coisas: a esplanada anterior era cheia de defeitos, e muitos saudosistas hoje gritando nas redes não pisavam há anos naquele lugar ermo, cheio de degraus, com banheiros abandonados e sem nada para ver ou fazer; o Anhangabaú era melhor para se ver ao longe do que de perto. Lugar de passagem, não de contemplação ou passeio.

    O que igualmente falta ao atual projeto: digamos que o piso fosse bom e que algumas árvores fossem plantadas, o que mudaria? Se a existência de árvores fosse muito valorizada pelos paulistanos, o Trianon e o Parque Dom Pedro seriam concorridos, e o domingo na Paulista, onde não há uma sombra, seria um fracasso. Gente gosta de gente, e é nessa área que prefeitura, urbanistas e tuiteiros em geral mais tropeçam. Sem mesinhas, lugares para se ficar, papear, sentar e ver gente, atividades, vitrines, lanchonetes ou quiosques, ou seja, sem fachadas ativas nos Correios, na Praça das Artes, nos prédios de escritórios, na Galeria Prestes Maia, o Anhangabaú continuará a ser vazio. A muito arborizada Praça da República, ali perto, sofre da mesma escassez de usuários que não sejam apenas passantes. Um quiosque de pamonha, sorvete ou caldo de cana já levaria algum movimento para ali, mas isso jamais é levado em conta nas grandes obras de revitalização da cidade.

    + Passado e futuro do Anhangabaú, com Raul Juste Lores

    Exemplos não faltam, como o “novo” Arouche, reformado sem muito cuidado no último ano, onde as mudanças não encararam o mictório improvisado nos fundos das barracas de flores, que nem foram recuperadas. O resto foi seis por meia dúzia.

    A prefeitura tem bastante experiência em pagar por serviços com acabamento chinfrim. A falha é suprapartidária. A gestão Fernando Haddad entregou o “novo” calçadão da Rua Sete de Abril, com 3 120 metros quadrados em apenas dois quarteirões, já com buracos, desníveis e infiltrações na própria inauguração, no fim de 2016 — ao custo de 2,1 milhões de reais (2,8 milhões em valores corrigidos). Antes dele, entre 2006 e 2007, o prefeito Gilberto Kassab também fez uma reforma nas calçadas dos 3 quilômetros da Rua Augusta. Os 16 000 metros quadrados de calçadas reformados custaram 2,2 milhões de reais (4,9 milhões hoje), mas estrearam na passarela com placas descoladas, níveis irregulares e afundamentos, como também noticiou a imprensa à época. As desculpas vão da falta de experiência dos fornecedores à mão de obra sem treinamento.

    Mas esse histórico recente causa mais temor quando se aguarda o resultado da reforma dos 40 000 metros quadrados do Vale do Anhangabaú do governo Bruno Covas. Não parece promissor.

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