Avatar do usuário logado
OLÁ,
Imagem Blog

São Paulo nas Alturas

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura

Edifício em Santa Cecília é legado dos irmãos Victor e Antonin Kumpera

Eles contrataram um arquiteto de primeira, Alfredo Duntuch, para projetar o prédio

Por Raul Juste Lores
Atualizado em 6 dez 2019, 12h00 - Publicado em 6 dez 2019, 06h00
Terreno curvo marca o edifício Kumpera (1957), do arquiteto Alfredo Duntuch (Raul Juste Lores/Veja SP)
Continua após publicidade

Os irmãos Victor e Antonin Kumpera desembarcaram aqui como “apátridas” — sem a nacionalidade de origem nem reconhecimento por Estado algum. Nascidos em Praga, fugiram durante a II Guerra para a Suíça e de lá para o Brasil. Como vários contemporâneos, decidiram investir no mercado imobiliário (o primeiro, engenheiro, o segundo, corretor).

Edifício Kumpera
Pedra canjiquinha na fachada (Raul Juste Lores/Veja SP)

Sorte de São Paulo, pois os irmãos contrataram um arquiteto de primeira, Alfredo Duntuch, para a empreitada. Localizado na Rua Conselheiro Brotero, em Santa Cecília, perto do Hospital Samaritano, o edifício Kumpera tem 33 apartamentos de tamanhos variados, mas espaçosos. As unidades de dois quartos têm 197 metros quadrados; as de quatro quartos, 339.

Edifício Kumpera
Mármore no interior: luxo contido (Raul Juste Lores/Veja SP)

A detalhada escritura prova que home office não é novidade: com portas de correr nas salas, vários ambientes poderiam ser transformados em escritórios ou salas de reunião, sem invadir a área privativa. O mármore e a marcenaria das áreas internas contrastam com a simplicidade da fachada, que acompanha a curva suave do terreno e cujas colunas são revestidas de pedra canjiquinha.

Continua após a publicidade
Edifício Kumpera
Marcenaria das áreas internas contrasta com a simplicidade da fachada (Raul Juste Lores/Veja SP)

Como os Kumpera, o também construtor Duntuch foi apátrida. O judeu polonês, a mulher e a filha vagaram pela Europa do Leste escapando dos nazistas, até conhecerem o cônsul brasileiro em Istambul, que lhes ofereceu visto. Com medo do fascismo no Mediterrâneo, eles cruzaram o Oriente Médio até a Índia, para dali percorrer a África e chegar a São Paulo em 1941.

Edifício Kumpera
Edifício com 33 apartamentos, divididos em unidades de dois ou quatro quartos (Raul Juste Lores/Veja SP)
Continua após a publicidade

No fim da vida, ele projetou um apê, só para o casal, de 400 metros quadrados e apenas um quarto. Apreciava o espaço, sem paredes. A filha, Olga Krell, virou um dos principais nomes da decoração no país.

Edifício Kumpera
A fachada acompanha as curvas do terreno (Raul Juste Lores/Veja SP)

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 11 de dezembro de 2019, edição nº 2664.

Publicidade