Figurinha carimbada em manifestações contra a Copa do Mundo em 2014, em São Paulo, o ex-professor de inglês Rafael Marques Lusvarghi, 38, foi preso na Ucrânia, dois anos depois, por atuar em tropas militares rebeldes que visavam à independência política de dois territórios do país europeu. A ideia do grupo era criar a República Popular de Donetsk (RPD) e a República Popular de Lugansk (RPL). Acusado de terrorismo, acabou solto em 2017 e conseguiu retornar ao Brasil.
Em maio de 2021, o “guerrilheiro brasileiro”, como ficou conhecido por aqui, voltou a ser preso, desta vez em Presidente Prudente, interior de São Paulo, acusado de tráfico de drogas. Em sua casa foram encontrados 25 quilos de maconha e 350 munições calibre 9 milímetros.
No depoimento no dia da prisão, Lusvarghi disse que a droga e as munições não lhe pertenciam, mas que aceitou guardá-las em sua casa para receber 3 000 reais por isso. “Algumas semanas atrás, através de contatos, aceitou a função de guardar entorpecentes em sua residência a pedido de outras pessoas que alega não conhecer, mas que a função era remunerada, e que receberia o valor de 3 000 reais por mês pela guarda das substâncias e da munição apreendida”, afirma o escrivão que lavrou a detenção em flagrante.
Pelo crime, o réu foi condenado a oito anos de cadeia, que deverão ser cumpridos em regime fechado. “O acusado demonstra possuir personalidade voltada à prática delitiva, o que se evidencia diante de seu profundo envolvimento em uma associação criminosa armada voltada à prática de crimes de tráfico de drogas, à qual fazia parte havia mais de um mês antes de sua prisão, período no qual não apenas armazenou grande quantidade de droga e de munições, mas também promoveu a aquisição e a distribuição de entorpecentes a terceiros”, escreveu na sentença a juíza Renata Esser de Souza.
Como se tornou guerrilheiro.
Demitido de seus dois empregos, de professor de inglês e assistente de helpdesk, após as prisões nas manifestações do Brasil, Rafael fez contato com os combatentes de etnia russa por meio de amigos, comprou a própria passagem e ingressou no Batalhão de Prisrak, na Ucrânia. “Minha manutenção aqui é humilde, é a manutenção de um soldado, não recebo nada, mas também não pago nada. Durmo em um alojamento improvisado, não passo fome, mas os mantimentos são uma questão coletiva – nos últimos dias, foi uma alegria, pois conseguiram comprar três galinhas”, contou ao jornal O Estado de S. Paulo há cinco anos.
“A tropa de voluntários se bate pela Nova Rússia, acima de tudo e contra o imperialismo americano”, definiu Lusvarghi, usando a denominação dos separatistas russos para o leste da Ucrânia. “Pretendo ficar aqui mesmo depois que a luta acabar. Para dizer o mínimo, vou até o fim”, afirmou. “No Brasil, eu só observava o conflito de longe, já com minhas posições atuais de apoio ao Donbass”, conta ele. “Consegui entrar em contato graças a uns amigos politicamente engajados. Não são recrutadores ou coisa assim, só tive a sorte de ter esses amigos que me encaminharam para um grupo especial. Eles sabiam da minha experiência militar.”
Condenado a 13 anos de prisão na Ucrânia em 2016, Rafael teve direito a um novo julgamento e pouco tempo depois ele foi solto.