Com quase um século de atraso, o projeto de construção de um túnel submerso ligando Santos e Guarujá, no Litoral Sul, finalmente ganhou o pontapé inicial para sair do papel.
Após acordo entre União e governo do estado, a obra, que está em fase de emissão de licenças ambientais e definição de projeto executivo e traçado, tem previsão de começar para valer em meados de 2025.
Com 870 metros de extensão, a passagem ficará a 21 metros de profundidade e reduzirá para pouco mais de um minuto o tempo de travessia — hoje feito em oito minutos pelo antigo e obsoleto sistema de balsas (sem contar as esperas, sujeitas a contratempos) e cerca de uma hora pela estrada (são 44 quilômetros de distância).
O custo da construção está orçado em 6,5 bilhões de reais, divididos entre os dois parceiros da empreitada. Além da construção do túnel, que deve terminar em 2028, o plano prevê uma série de obras de acesso à passagem, tanto em Santos quanto no Guarujá.
Nesse último, a saída da ligação, que ocorrerá no bairro de Vicente de Carvalho — um dos mais pobres e populosos da cidade, com 150 000 habitantes —, será feita por meio de um anel viário. Essa via será responsável por fazer a conexão com a avenida que margeia os terminais portuários e também com a Rodovia Cônego Domênico Rangoni, o principal acesso ao Guarujá para carros que vêm do sistema Anchieta- Imigrantes.
Junto com as informações técnicas e de construção, uma série de dúvidas paira sobre a população dos dois municípios, sobretudo no que diz respeito a desapropriações. Na última semana, a Autoridade Portuária de Santos (APS), responsável pela gestão do porto e pela parte da União na obra, enviou um ofício à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) pedindo a revisão de uma proposta sobre o traçado do túnel que resultaria em 66 desapropriações residenciais.
Na avaliação da APS, é possível construir o túnel sem afetar os imóveis regulares, com exceção das residências de madeira às margens do canal do porto. Montadas em palafitas no lado do Guarujá, cerca de 650 casas já estão sendo removidas, e seus moradores serão realocados para um conjunto habitacional que está sendo erguido. “O túnel terá importante impacto ambiental, com uma redução de cerca de 70 000 toneladas de CO2 , sem falar na geração das moradias para as famílias que vivem nas palafitas”, afirma Anderson Pomini, presidente da Autoridade Portuária de Santos.
Enquanto o projeto do túnel Santos-Guarujá está na fase político-administrativa, outra longa promessa sairá do papel mais cedo. Construída na década de 1960, a antiga Base Aérea de Santos, que na verdade fica no Guarujá, deverá em breve se tornar um aero por to de voos comerciais, com um terminal de embarque e desembarque.
Previsto para começar a operar em dezembro, o novo- velho aeroporto, que passa por reformas nas pistas e ganhará 4 quilômetros de cercas, terá movimentação inicial de dez voos semanais, e as obras estão orçadas em 24 milhões de reais. “A primeira fase será provisória, com um terminal de passageiros em um contêiner de 300 metros quadrados e operações de aviões turboélice para até 72 passageiros”, afirma Leonardo Gazillo, secretário de Desenvolvimento Econômico e Portuário do Guarujá.
A segunda fase do aeroporto, ainda sem prazo para ocorrer, prevê a ampliação da pista, a construção de um novo acesso viário, a implantação de um terminal definitivo e a edificação de hangares. “A ideia é que as empresas aéreas entendam as viabilidades econômicas e comecem gradualmente a levar seus voos para lá. A partir daí, a população vai ver as facilidades, e o aeroporto tomará envergadura”, diz Gazillo.
Em Santos, não é só o futuro túnel que levará as pessoas da cidade a passar pelo porto. Recém-inaugurado, o Parque Valongo foi erguido onde antes funcionavam oito armazéns, fechados havia décadas.
Com roda-gigante e espaços para restaurantes e eventos, o local será ampliado e já integra áreas históricas do Centro santista, como o Museu Pelé, o Museu do Café e o circuito religioso, entre outros.
Essa área do porto também abrigará no futuro o terminal de passageiros que embarcam para cruzeiros. “Com o parque conectado ao terminal, as pessoas vão se estimular a ficar mais na cidade, a consumir no dia do embarque e desembarque. Hoje não há ambiente para consumo ou passeio”, afirma Elias Francisco da Silva Júnior, secretário de Assuntos Portuários e Emprego de Santos. “O porto é o principal ativo de Santos, mas antes não havia um território compartilhado com a cidade.”
Novos tempos se avizinham.
Publicado em VEJA São Paulo de 2 de agosto de 2024, edição nº 2904.