Caso de PM que jogou um homem de ponte eleva o tom de críticas à polícia
Nesta quinta (5), Justiça determinou a prisão do soldado Luan Felipe Alves Pereira
As imagens são tão claras quanto estarrecedoras: após uma sequência de perseguição e abordagem, iniciada em Diadema, na Região Metropolitana, um soldado da Polícia Militar pega um homem pelo braço e o joga de cima de uma ponte, em Cidade Ademar, na Zona Sul, como se fosse um embrulho qualquer.
O caso, ocorrido no domingo (1º), levou ao afastamento não apenas do responsável pela tentativa de homicídio, mas dos outros doze policiais que viram a cena e nada fizeram para impedi-la. Todos atuam no 24º Batalhão de Diadema, a 5 quilômetros do local do crime.
A vítima, que teria tentado escapar de uma abordagem usando uma motocicleta, caiu de uma altura de 3 metros, sofreu sangramentos no rosto e na cabeça e foi levada ao hospital por pessoas que presenciaram a situação. Seu estado de saúde não foi informado.
Na quinta (5), a Justiça Militar determinou a prisão preventiva do agente, identificado como Luan Felipe Alves Pereira, 30.
De tão absurda, a cena proporcionada por Luan logo ganhou as redes sociais e gerou uma onda de críticas à PM, cuja atuação já vinha sendo alvo de contestações devido ao aumento da letalidade policial nos últimos dois anos, além de outras ações desastrosas que culminaram na morte de civis. “São claros exemplos de uso desproporcional da força, esses casos beiram a execução”, afirma Dennis Pacheco, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Outro caso chocante ocorreu em novembro, mas só foi divulgado agora. À paisana, o policial militar Vinicius de Lima Britto desferiu onze disparos contra um homem que havia acabado de furtar materiais de limpeza de um mercado na Avenida Cupecê, também na Zona Sul. Gabriel Renan da Silva, 26, que havia tropeçado no tapete da loja e foi atingido pelas costas, morreu na hora. O policial só foi afastado de suas funções um mês depois.
As duas ações, somadas à morte de um estudante de medicina ocorrida há três semanas, também após uma abordagem equivocada da PM, na Vila Mariana, acertaram em cheio a reputação da corporação. “Não gosto de falar em casos isolados, mas essas são ações individuais, que nos preocupam, chamam atenção, mas não correspondem à realidade de uma polícia com mais de 100 000 pessoas”, afirma o coronel Emerson Massera, chefe da comunicação social da PM.
Seu superior, o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirma ter recebido a notícia do policial que jogou o homem pela ponte com “estarrecimento”. “É um absurdo, ainda mais com o indivíduo contido. Havia vários policiais ali e a conduta de todos foi inadmissível”, diz Derrite, que vem sendo criticado pelo aumento de mortes em ocorrências policiais.
Sobre o tema, o ex-capitão da PM assegura que o aumento decorre da elevação no número de detenções. “Prendemos 168 000 pessoas em 2024, contra 157 000 em 2023. Esse aumento, infelizmente, causa mais confrontos”, diz o secretário, que continua tendo o respaldo de Tarcísio de Freitas. “Ele está fazendo um bom trabalho”, disse o governador.
Política à parte, as punições aos culpados precisam ser severas.