O tradicional Paribar, no Centro, anunciou o encerramento das atividades. Instalado na Praça Dom José Gaspar, o bar vai funcionar só até o almoço de segunda (26), última chance de tomar um drinque ou petiscar no endereço de passado histórico.
A casa, que fica atrás da Biblioteca Mário de Andrade e fazia um sucesso entre a intelectualidade paulistana, operou entre os anos 50 e 80, quando fechou. Ressurgiu no mesmo imóvel em 2010, nas mãos do empresário Luiz Campiglia, que inicialmente desconhecia o passado do imóvel. No ponto, ele tocava um café-restaurante desde 2005. Após ouvir histórias de ex-frequentadores, pesquisou sobre o local e ressuscitou o bar à sua maneira, bem distante do original.
O Paribar, então, vai fechar pela segunda vez.
Quem me contou a notícia foi o próprio Campiglia, por telefone, na tarde de quinta (22). “Não tive recursos de fora. Foi heroico e foi muito desgastante”, disse ele sobre sua trajetória no negócio. “Entre 2013 e 2014, tivemos um crescimento elevado, e, em 2015, 2016, eu já estava com uma operação muito grande para um proprietário só.”
Problemas com o contrato de locação e o aumento da violência no Centro também contribuíram para o fechamento, além das questões administrativas. “O Centro nunca foi dos lugares mais tranquilos, mas a pandemia aumentou a miséria na rua. Sou da bandeira de que miséria não é violência — o cliente já não gosta muito. No fim do ano passado, começo desse ano, a violência começou a saltar em cima.”
Ao mesmo tempo, a clientela que reúne gays, héteros, famílias com crianças e turistas foi rareando desde o início do ano. Nem parecia o Paribar do início dos anos 2010, quando as mesas bombavam durante a semana e também aos fins de semana, no brunch. Outro hit que fazia o espaço receber ainda mais gente eram as festinhas que rolavam em frente e tomavam conta da praça, entre elas a Selvagem.
Campiglia, porém, não desistiu da região. Prepara a abertura de um estabelecimento no Centro, que “terá a ver com a minha pesquisa sobre o papel da comida na formação da cidade de São Paulo”, prometeu. “De novo, quero transformar mais uma parte do Centro.”
Numa crônica escrita em 1998 para a Vejinha, o escritor Marcos Rey (1925-1999) recordou: “O Paribar, atrás da Biblioteca Pública Municipal, foi um dos nossos bares mais frequentados. Cheguei a acreditá-lo eterno, um postal da cidade. Lá se servia de tudo, até o papo inteligente de Sérgio Milliet, então o mais refinado dos intelectuais paulistas. Era delicioso sentar-se no Paribar e ver o povo passar”.
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