Cacá Ribeiro e André Almada têm trajetórias de sucesso paralelas no mundo das baladas LGBTQIA+ da cidade. Os empresários fazem festas desde a época em que a sigla para esse público era a restritiva GLS (gays, lésbicas e simpatizantes). Ou seja, faz tempo — ex-bailarino e ex-ator, o paulistano Cacá promoveu a primeira noite em 1993, e Almada, ex-relações-públicas nascido em Birigui (SP), ingressou no mundo da boate profissional em 2004.
Os dois, entretanto, não tiveram nenhum projeto juntos durante a carreira. Ainda. “Muitos acham que somos rivais”, revela Almada. “Cada um sempre trabalhou com um público diferente.” Esse encontro, porém, está prestes a acontecer.
A dupla promete estrear a festa Radar, caso não haja contratempos, no sábado (26). O local será em um espaço no Bom Retiro (Rua Solon, 1145), na antiga fábrica da Ford, que tem recebido eventos fervidos como Gop Tun e ODD. Fica pertinho do ponto onde foi a extinta a boate Radar Tantã, sucesso roqueiro dos anos 80.
Com ingressos a 90 reais (pista) e 150 reais (camarote), a noite terá duas pistas, cada uma com a “bandeira” de um dos sócios. A de Almada, chamada de high system, será ligada à música eletrônica, sobretudo a tribal house, vertente com forte uso de percussão. É o tal do bate-cabelo.
O gênero bombava na The Week, megabalada que tocou por dezessete anos na Lapa. Embora o espaço não tenha funcionado na pandemia, o fechamento definitivo foi anunciado em setembro, para tristeza do público formado sobretudo por homens gays com zero pudor em chacoalhar na pista de peito desnudo.
Para a folia, que deve rolar até as 8h, estão confirmados os DJs Ale Rosa & Marcio Zanzi, Melques Viber, Zambianco, Cacá Werneck e Jully Beats.
A pista love nation, capitaneada por Cacá, é mais ligada ao pop e vai encerrar “cedo”, por volta das 6h. Espere hits que bombam nos streamings, como os das cantoras Anitta e Gloria Groove, além de funk, liberados dos pickups por Angélica Möller, Sergio Amorim, Nicolas Abe, Renan Martelozzo e Armando Saullo, esse último do bloco Agrada Gregos, com performance de Sasha Zimmer.
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O espírito é mais relacionado ao do trio de casas que o anfitrião toca com outros sócios e que, apesar das dificuldades da pandemia, sobreviveram (“estamos em recuperação”, diz). São o Club Yacht, na Bela Vista, dominado pelo público LGBTQIA+ de 20 e poucos anos, o Lions Nightclub, também na região central, com festas variadas, mas às sextas-feiras com moços de 30 e alguns, e o Jerome, em Higienópolis, inferninho chique onde impera a música eletrônica de pegada underground, em subgêneros como disco e tech-house, e os caras de 30 e 40.
“O mais interessante é estar todo mundo no mesmo lugar”, acredita Almada. “A pessoa vai poder dançar uma Pabllo (Vittar), uma Anitta, uma Britney (Spears) e depois curtir na outra pista essas mesmas artistas, remixadas.”
A amizade dos patronos das folias LGBTQIA+ começou há tanto tempo, no início dos anos 90, que eles — Cacá, hoje com 59 anos, e André, 49 — nem fazem questão de calcular. “Tínhamos amigos em comum e sempre frequentamos juntos a noite”, diz Almada. Batiam cartão em boates como B.A.S.E., Columbia, Lov.e e Massivo, todas finadas, assim como o bar Director’s Gourmet.
A pandemia foi a deixa para os laços entre os dois — na amizade e nos negócios — ganhar tanta musculatura quanto a dos descamisados da extinta The Week. Uma aproximação solidária numa fase pesadíssima para os donos de casas noturnas. “Começamos a conversar e dar apoio um ao outro”, diz Cacá. Será que essa parceria vai dar match? “Nós somos festeiros, gostamos de receber pessoas”, afirma. “Só juntou a fome com a vontade de comer. Quer dizer, com a vontade de beber.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de março de 2022, edição nº 2781
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