Com o espetáculo “Um, Dez, Cem Mil Inimigos do Povo”, o diretor Kleber Montanheiro e a Cia. da Revista recorrem a um clássico para falar da realidade brasileira em forma de musical. O ponto de partida é “Um Inimigo do Povo”, peça escrita pelo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), e o resultado, em cartaz no Espaço Cia. da Revista, tem dramaturgia recriada por Cássio Pires e canções originais de Ricardo Severo. Montanheiro cita por aqui algumas outras joias do teatro mundial que poderiam, quem sabe, ser revisitadas por seu grupo. “Acho de extrema importância a adaptação de clássicos para nossa linguagem. Mas do que ao musical propriamente dito, mas à revista, revendo as obras com um olhar contemporâneo, que era uma das prioridades do teatro de revista como gênero”, diz Montanheiro.
+ Grace Gianoukas: “Seria imaturo eu ficar deslumbrada”.
William Shakespeare em “Ricardo III”
“Recontar essa história acentuando o lado cômico e irônico em contraste com o trágico destacaria a dramaticidade da peça e a sangrenta batalha pela conquista do trono. Shakespeare era extremamente popular e, dentro dessa perspectiva, as linguagens trabalhadas pela Cia. da Revista se apoiam nessa comunicação direta com o público.”
Maximo Gorki em “Pequenos Burgueses”
“A decadência da família e a possibilidade do embate de classes dentro da peça seria uma possibilidade de desconstrução. Muito próxima a “Um Inimigo do Povo” na sua estrutura dramatúrgica, nessa peça temos a família pequeno-burguesa em contraste com a empregada doméstica e o operário em um ambiente opressivo da sociedade czarista.”
Molière em “O Avarento”
“Em Molière, nossa reconstrução seria aproximá-lo ao trágico, uma vez que o autor já estabelece sua obra com a linguagem cômica e repleta de ironias. Trazê-lo aos nossos dias e nossas linguagens seria reforçar o mercantilismo e a luta pelo poder através do capital, equalizando o caráter dramático do mundo contemporâneo dentro da obra.”
+ Clarice Niskier relembra histórias de uma década de “A Alma Imoral”.
Sófocles em “Antígona”
“Talvez seja o texto mais difícil de pensar em uma aproximação com a nossa linguagem, mas ainda assim vislumbro muitas possibilidades. Como Chico Buarque fez com Medeia em ‘Gota D’Água’, acho ainda perfeitamente possível uma vez que Sófocles estabelece dentro da ‘Trilogia Tebana’ algumas discussões que são muito pertinentes ao mundo em que vivemos hoje. A luta de Antígona pela honra do irmão morto, a possibilidade de cena através das informações divinas que fazem parte do universo da tragédia grega e o coro são elementos muito fortes que poderiam fazer parte de um espetáculo da Cia. da Revista.”
Tennessee Williams
“Eu arriscaria o nome do dramaturgo americano. Não uma obra específica, mas talvez um compilado de suas personagens e relações em que pudéssemos criar um espetáculo autoral, apoiado nas diversas discussões estabelecidas dentro das peças do autor. Suas personagens são intensas, psicologicamente complexas e seria um grande desafio para a Cia. da Revista e para mim, como diretor, buscar essa proximidade com a atualidade dentro das linguagens que trabalhamos. As peças de Tennessee Williams são repletas de poesia e imagens. Não é à toa que foi o dramaturgo mais adaptado para o cinema, depois de Shakespeare.”
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