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Gabriel Villela e a reinvenção da intriga em “Macbeth”

Em 2010, o diretor Aderbal Freire-Filho reuniu Daniel Dantas e Renata Sorrah em uma montagem um tanto conservadora de “Macbeth”, peça escrita por William Shakespeare em 1606. Se daquela vez a criatividade passou longe na hora de conceber a tragédia, a versão levada ao palco do Teatro Vivo por Gabriel Villela sai na frente em […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 12h23 - Publicado em 16 jun 2012, 20h04
Photo: Joao Caldas Fº/5D II (/)
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Claudio Fontana e Marcello Antony na nova versão da tragédia de William Shakespeare (Foto: João Caldas)

Em 2010, o diretor Aderbal Freire-Filho reuniu Daniel Dantas e Renata Sorrah em uma montagem um tanto conservadora de “Macbeth”, peça escrita por William Shakespeare em 1606. Se daquela vez a criatividade passou longe na hora de conceber a tragédia, a versão levada ao palco do Teatro Vivo por Gabriel Villela sai na frente em pelo menos uma questão: a reinvenção. Como já é característico, Villela coloca a encenação acima de tudo, inclusive do texto e do time de atores liderado por Marcello Antony e Claudio Fontana. Ele transformou as mais de três horas originais em 90 minutos, tornando a história mais palatável a um público impaciente e, infelizmente, pouco disposto a ficar muito tempo sentado na poltrona. O resultado alcançado é eficiente, principalmente por suas soluções criativas que fogem do realismo sem descaracterizar a essência do clássico do bardo inglês.

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Regra do teatro elisabetano da época aqui reverenciada, o elenco de oito integrantes constitui-se exclusivamente de homens. A curiosa escalação – principalmente pelo nome de Fontana como a vilã Lady Macbeth – por si é um desafio ao diretor e torna-se uma curiosidade em torno de uma trama tão conhecida. Ao voltarem de uma campanha, os generais escoceses Macbeth (interpretado por Antony) e Banquo (Marco Antonio Pâmio) cruzam com três bruxas – apresentadas como tricoteiras de visual futurista, munidas de antenas de televisão – e ouvem uma profecia: o primeiro se tornará rei e o segundo será pai de muitos reis. Instigado pela ambiciosa mulher (papel de Fontana), Macbeth passa a eliminar quem ameaça seu domínio imediato na Escócia. Na era da total e ininterrupta comunicação, Villela levanta a questão de como uma fofoca pode ser elevada a uma grande intriga e destruir a vida de várias pessoas em nome do poder.

Antony constrói um Macbeth marcado pela apatia, o que colabora para atenuar inclusive os seus limites de intérprete. Fontana, por sua vez, apresenta uma espécie de falsa gueixa com entradas pontuais e, sem imprimir uma voz ou uma postura feminina, torna a personagem marcante justamente por ela destoar dos demais em cena. Com essa imagem difusa, o caráter da vilã surge representado. Mas em meio ao grupo, completado por Helio Cicero, Carlos Morelli, José Rosa, Marco Furlan e Rogério Brito, o destaque fica por conta de Marco Antonio Pâmio. A cena da morte do personagem Banquo, espetado pelas antenas de TV que, agora, simulam espadas, evidencia a sensibilidade e a técnica do ator. E ali as escolhas de Gabriel Villela – gostem ou não de seu estilo – se justificam.

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