“Imortais”, de Newton Moreno, direção de Inez Viana.
+ Sexta e sábado, 20h30; domingo, 19h. R$ 50,00. Até 3 de dezembro.
Lançado em 2004, o drama Agreste projetou o autor pernambucano Newton Moreno. Ele escreveu, na sequência, boas peças cômicas para as atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão (As Centenárias) e Lilia Cabral (Maria do Caritó), conheceu o grande público, mas sem alcançar o brilhantismo daquele trabalho consagrador. O ótimo drama Imortais traz Moreno na sua melhor forma em mais de uma década. As tradições e crendices do povo nordestino aparecem conectadas a uma polêmica contemporânea tratada de maneira sublime.
Ambientada em um cemitério, a trama centra o foco em uma viúva conservadora (interpretada por Denise Weinberg) que, sofrendo de uma doença terminal, se instala em um túmulo próximo ao do marido para esperar a morte. O sossego é interrompido pelo retorno da filha rebelde (a atriz Michelle Boesche), afastada de casa há seis anos, ao lado do noivo (representado por Simone Evaristo), uma mulher em processo de transformação para homem trans. O choque da mãe abre espaço para reflexões como a redescoberta do afeto e a possibilidade de um novo conceito familiar. A revelação de um segredo ajuda o espectador a compreender o comportamento de cada um e, graças ao elenco afinado, a montagem dirigida por Inez Viana ganha a empatia da plateia.
Denise explora seus múltiplos recursos ao transitar confortavelmente entre o dramático e o cômico. Simone, por sua vez, humaniza a personagem com uma doçura imprevista. No papel mais difícil, Michelle expõe seu potencial e constrói um tipo denso com naturalidade e longe da caricatura. Destaque ainda para a trilha sonora executada ao vivo por Gregory Slivar (80min). 14 anos. Estreou em 23/6/2017.
“O Testamento de Maria”, de Colm Tóibin, direção de Ron Daniels.
+ Quarta e quinta, 20h30. R$ 50,00. Até 30 de novembro.
Parece óbvio, mas não custa ressaltar. Na montagem de um solo, mais importante que a concepção do diretor é a embocadura emprestada pelo intérprete ao personagem. Atriz de peculiar força cênica, Denise Weinberg funde sem trégua sua marcante personalidade à da emblemática figura central do monólogo dramático O Testamento de Maria. Grande atrevimento. Afinal, trata-se da mais famosa de todas as que atendem por esse nome, a mãe de Jesus. Ela surge consumida pela angústia e com dificuldade para entender as opções feitas pelo filho recém-crucificado.
Escrito pelo irlandês Colm Tóibin com base em seu romance homônimo, o texto despertou polêmica na Broadway e ganhou encenação brasileira sob o comando de Ron Daniels. O cenário, mínimo, traz só uma cadeira. Logo após a morte do filho, Maria está exilada em Éfeso – porque, dizem, também corre risco de vida – e destrata os discípulos que insistem em visitá-la. Em sua visão, são todos maus elementos que contribuíram para o fim trágico do rebento. O percussionista Gregory Slivar, presente no palco, pontua as falas da intérprete, conferindo à encenação uma atmosfera típica das tragédias.
Conduzida por Daniels, Denise humaniza tanto a personagem que praticamente abre mão da emoção. Na dor de sua Maria impera a revolta, como a de muitas mães em tal situação, e o público precisa compreendê-la com a razão para, enfim, se deixar levar por um sentimento de comoção. A artista ganhou o prêmio de melhor atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte no ano passado (80min). 16 anos. Estreou em 7/1/2016.
+ Teatro Aliança Francesa. Rua General Jardim, 182, Vila Buarque. R$ 50,00 (cada espetáculo). IR