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Denise Del Vecchio: “Eu não enxergo o teatro como uma carreira”

A atriz paulistana protagoniza o drama A Bala na Agulha, que pode ser visto no Tucarena

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 00h10 - Publicado em 20 set 2013, 02h26
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Denise Del Vecchio (entre Eduardo Semerjian e Alexandre Slaviero) em “A Bala na Agulha” (Foto: Dene Santos)

A atriz Denise Del Vecchio observou mais atenta um universo bem próximo para compor a personagem do drama A Bala na Agulha. Com quatro décadas de carreira, a paulistana de 62 anos voltou seu olhar para o meio artístico e também reavaliou um pouco a própria trajetória. Sob a direção de Otávio Martins, Denise interpreta Célia de Castro, atriz de sucesso nos palcos e na televisão, que precisa dividir a atenção entre dois homens, o veterano Chico Valente (personagem do Eduardo Semerjian) e o jovem Cadu (papel de Alexandre Slaviero). Em cartaz no Tucarena, de sextas a domingos, o espetáculo pode ser visto até 1º de dezembro.

Você é uma intérprete que valoriza muito o sentido do texto. Então, como é interpretar uma atriz nesse espetáculo?

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Sabe que foi exatamente isso que me chamou atenção? A Célia é uma personagem que tem tanto a ver com o meu universo e com a forma que encontrei para sobreviver na minha profissão. Ela trilhou um caminho semelhante ao meu. Começou no teatro e depois enveredou para a televisão. O texto da autora Nanna de Castro é mais ou menos assim… No passado, a Célia teve um caso com o Chico Valente. Só que esse homem seguiu um caminho de frustração e amargura. Os dois se afastaram. É o tipo de ator radical, cheio de princípios, que se considera o injustiçado da humanidade. Ai, conheço tantos colegas assim. Hoje, a Célia interpreta a mãe do Cadu na novela e os dois ainda por cima têm um caso. Então, ela decide produzir uma montagem de Esperando Godot como forma de ajudar esses dois homens. Ela traria o Chico de volta ao circuito e investiria na carreira do Cadu, que precisa ganhar prestígio fora da tevê. O problema é que a convivência dos dois se transforma em um caos e ela precisa mediar essa história.

Mas você demorou um pouco para começar a fazer televisão, não?

Nem tanto. Eu estreei na TV Tupi em 1974.  Já sou bem velha (risos). Era a novela Ídolo de Pano, do Teixeira Filho. Meu filho (o hoje ator André Frateschi) era um recém-nascido e não tinha um tostão para sustentá-lo. Para mim, o teatro não era uma forma de ganhar a vida. Era uma militância, um trabalho político. O dinheiro vinha de outras formas. Trabalhava na lanchonete do meu pai, por exemplo, e era suficiente. Fazia parte de um grupo de teatro. Eles se revoltaram, promoveram uma reunião para discutir a minha ida para a tevê. Os tempos eram outros mesmo.

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E você mudou também a sua visão?

Até hoje eu não enxergo o teatro como uma carreira, no sentido de verticalização. E, ao longo dos anos, consegui alcançar um equilíbrio entre o palco e a televisão. Nunca deixei de fazer peças e encontrei prazer nas novelas. Tive oportunidade de viver mulheres completamente diferentes de mim na tevê. Imagina aquela solteirona virgem de Chocolate com Pimenta? Em Força de um Desejo, era uma maluca deslumbrada que se revela assassina. Recentemente, interpretei uma mulher submissa, mãe de doze filhos na série José do Egito. Adorei aquilo. E já comecei a gravar Pecado Mortal no papel de corregedora de polícia, um universo completamente masculino. Essa é a delícia de ser atriz.

Trata-se da segunda experiência consecutiva sob a direção de Otávio Martins, não? A primeira foi Circuito Ordinário em 2011.

Eu adoro trabalhar com o Otávio. Ao lado dele, eu me sinto mais próxima das novas gerações. É importante para um ator ficar sempre atento aos outros pontos de vistas. Na televisão, eu trabalho com um elenco de diferentes faixas etárias, mas é muito difícil encontrar tempo para uma convivência. No teatro, não… Você é posto à prova todos os dias, seja nos ensaios ou durante a temporada. Todos decidem juntos como solucionar uma cena, o melhor sentido de uma palavra. Então se discute o tempo todo. E logo veio o Alexandre, que é mais jovem ainda e com quem é uma delícia trabalhar. Teatro se faz com troca de experiências. E aí eu não preciso ser uma atriz comportada e obediente ao diretor e aos colegas. Até porque não sou assim mesmo. Gosto de ideias novas, de interpretações diferentes.

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