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Indicações do que assistir no teatro (musicais, comédia, dança, etc.) por Laura Pereira Lima (laura.lima@abril.com.br)
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“A Noite das Tríbades” é uma joia a ser descoberta

Entre o final de setembro e início de outubro passado, a comédia dramática “A Noite das Tríbades” fez uma temporada de oito sessões no Sesc Bom Retiro. Apresentado em um festival  dedicado ao centenário de morte do dramaturgo August Strindberg (1849-1912), o texto escrito em 1975 pelo também sueco Per Olov Enquist trazia um elenco […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 11h28 - Publicado em 6 fev 2013, 18h02
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  • Clara Carvalho, Daniel Volpi, Nicole Cordery e Norival Rizzo na comédia dramática do sueco Per Olov Enquist (Foto: Flávio Tolezani)

    Entre o final de setembro e início de outubro passado, a comédia dramática “A Noite das Tríbades” fez uma temporada de oito sessões no Sesc Bom Retiro. Apresentado em um festival  dedicado ao centenário de morte do dramaturgo August Strindberg (1849-1912), o texto escrito em 1975 pelo também sueco Per Olov Enquist trazia um elenco expressivo ­­– os atores Clara Carvalho, Norival Rizzo, Nicole Cordery e Daniel Volpi – sob direção de Malú Bazan e coordenação geral de Eduardo Tolentino de Araújo. De nada adiantou a ficha técnica. Pouquíssima gente viu e quase não se escutou comentário.

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    Desde o dia 1º de fevereiro, o espetáculo voltou ao cartaz – mais uma vez, escondido – dentro da mostra “Repertório de Verão do Grupo Tapa” para sete noites no Viga Espaço Cênico, e a pequena plateia, pelo menos na reestreia, ficou longe da lotação. Mal sabem os espectadores que estão perdendo uma joia, uma das melhores montagens vistas na cidade recentemente. E os produtores também deviam lhe reservar uma vitrine melhor.

    O nome pode espantar? Talvez, principalmente por ser uma palavra pouco conhecida. Tríbade vem do grego e significa lésbica. Em um final de tarde de 1889, quatro artistas reúnem-se em um teatro para ensaiar a peça “A Mais Forte”, de Strindberg. São eles, o próprio dramaturgo (interpretado por Norival Rizzo), que criou a peça para a ex-mulher, Siri (papel de Clara Carvalho). Ela está envolvida com a atriz Marie Caroline (vivida por Nicole Cordery), homossexual assumida, falastrona e com um comportamento à frente de seu tempo. O jovem ator dinamarquês Viggo Schiwe (representado por Daniel Volpi), interessado em conviver e aprender mais sobre arte com os ídolos, completa o grupo. A ironia de cada um cede espaço ao ressentimento, e não tarda para a ficção começar a ser confundida com a realidade. A relação fracassada do casal vira o centro da ação, ainda mais diante do pivô da separação, quando não adianta mais ensaiar ou tentar retoques.

    Malú Bazan, seguindo a escola de Tolentino, construiu uma encenação calcada na ótima dramaturgia e nos intérpretes. No palco encontram-se pouquíssimos elementos, algumas caixas, cadeiras, uma mesa, que ali fazem sentido, por ser uma sala de ensaio e não significam precariedade ou improviso de produção, como virou costume. O grande alcance do texto se dá pela relevante discussão do papel da mulher na sociedade e o quanto isso incomoda quem se sente desafiado. Tanto faz se no final do século XIX, na década de 70 ou nos dias atuais, essa discussão ganha contornos de uma provocação capaz de ultrapassar o embate.

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    Transitando entre o trágico e o cômico, Rizzo é o pilar da montagem, valoriza cada fala e sem precisar recorrer a uma imagem preconcebida de Strindberg. Clara afasta-se da imagem dócil para alternar facetas e valorizar, inclusive, climas de sensualidade. A beleza sóbria de Nicole, reforçada pelo figurino, destoa da descrição feita a todo o momento pelo personagem de Rizzo, mas abre a possibilidade de uma leitura diferente para o público. Até que ponto aquele homem amargo não deprecia a imagem da rival, fingindo não enxergar a realidade? Volpi, mais discreto, também aproveita o pequeno espaço e ganha pontos diante das deixas oferecidas por Rizzo e Clara.

    Com esse elenco homogêneo, o texto cresce a cada instante e não precisa de mais artifícios. O brado feminista sempre precisou ser forte para ecoar. Outras vozes nunca faltarão para abafá-lo. Strindberg sabia disso ao escrever “A Mais Forte”. Per Olov Enquist também. Malú e Tolentino, por consequência, não foram ingênuos e mantiveram a leitura atemporal que o texto – perdão, feministas – sempre poderá ter.

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