Conhecida por dar espaço a bandas autorais e independentes, a Casa do Mancha, na Vila Madalena, organiza a segunda edição do Festival Fora da Casinha em outro endereço. O projeto nasceu no ano passado para celebrar o aniversário de 8 anos do espaço para shows. A ideia é mantê-lo anualmente.
Esta edição será realizada na Unibes Cultural, em Pinheiros, e terá As Bahias e a Cozinha Mineira, Maglore, Hurtmold, Kiko Dinucci, Anelis Assumpção, entre outros artistas, divididos em três palcos. Para falar sobre o projeto, VEJA SÃO PAULO conversou com Mancha Leonel, idealizador do projeto.
Por que montar este festival?
Estamos quase completando uma década de atividade. Temos relevância, bons contatos com artistas, uma história. Não é a casa mais antiga, não somos os mais maduros, porém não sou iniciante. Esses fatores somados nos levaram a criar o festival além-casa. Um resumo do que rola no endereço. O resultado foi incrível, com os ingressos esgotados. Então, não existe mais a necessidade do festival estar atrelado ao aniversário do espaço.
Como será o evento desta vez?
Haverá três palcos, com estéticas diferentes: dançante, contemplativa e do cantor (apresentações com voz e mais um instrumento), com sons que transitam entre vários gêneros. São bandas independentes e não de indie rock. Não tocam música “comercial”, mas têm qualidade. Se eu tivesse quinze palcos, talvez o line-up se mostraria outro. Um ponto importante: os grupos possuem uma posição político-social, independentemente do lado. Posicionam-se em relação ao consumo exagerado, valorizam o artesanal… São posturas francas, abertas e diretas.
Qual será a periodicidade?
A intenção é que seja anual. No entanto, é um festival 100% independente. Não tem patrocínio. Eu dependo inteiramente da venda de bilheteria. No primeiro, eu vendi meu carro para conseguir fazer. Com o retorno, eu pensei: compro outro ou faço outra edição? Fiz esta edição. Se não der certo, fico no prejuízo mesmo. Sem carro, eu já estou. Faço pela música mesmo. Se não, eu montava uma pastelaria.
A Casa do Mancha é conhecida por trazer boas bandas novas e autorais. Porém, trata-se de um espaço pequeno. Existe a possibilidade de mudar de local para conseguir mais público?
Não mesmo. Quando eu comecei com o estúdio, não tinha pensado em nada. Era só para fazer música, criar um laboratório musical. A gente faz tudo lá: grava vídeo, show, festa, o diabo. Mas eu nunca pensei na mudança, talvez por isso esteja durando. Tem perrengues, na maioria das vezes a gente está devendo, mas vale a pena. No caso do festival, por exemplo, a galera sabe que se a bilheteria não rolar, todo mundo se deu mal. É um caso de irmandade. Os artistas foram convidados e toparam entrar neste formato. Este é o diferencial. Não tenho nada contra patrocinador, mas não quero depender disso porque, aí, perdemos a produção cultural e a função aqui é essa. É uma válvula de escape. A gente está criando um público, um mercado, que ainda não é consolidado. Se for crescer, é para ser qualitativo, com estrutura boa, melhorar equipamentos. Quantitativo, não.