A batida de funk é viciante, daquelas que dá vontade de cair na pista. O grito de guerra “O Fervo Também é Luta” mostra a que veio. No entanto, desde quando o vídeo Fiscal, do MC Queer foi publicado, há uma semana, o sentimento é controverso, até mesmo dentro do segmento LGBT. Conversamos com o redator Felipe Cagnacci, de 31 anos, autor do projeto, para falar sobre a produção.
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O que é o MC Queer?
Eu não sou cantor. Mas sempre escrevi e estudei música como hobby e escrevo o que eu sinto. Falar sobre homofobia é urgente e esta é a minha causa. Por isso, criei no começo do ano o MC Queer, compus a letra e fui atrás de parceiros (uns sessenta) que topariam entrar no projeto, chamei amigos para montar o clipe.
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A música é funk, mas a letra é pesada em vários aspectos.
Sim. É controverso até mesmo dentro do segmento LGBT. Eu queria colocar essa contradição. Ao usar a voz do opressor, eu me aproximo dele e luto por direitos. O funk chega para todo mundo e com ele, a gente fala sobre a homotransfobia com todo mundo, para o bem ou para o mal, e não apenas no segmento LGBT. O cara pode estar dançando e aí ele para para prestar atenção na letra e pensa nas atitudes.
Quanto ao funk, é um som que já abriga minorias e trazem questões como o empoderamento, a exemplo de MC Carol, Tati Quebra-Barraco e Valesca.
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Você encarou críticas dentro do segmento LGBT?
Uma das frases mais questionáveis é “tem que ser macho para dar o próprio c*”, como se eu estivesse cutucando a figura do macho, sendo que há a desconstrução da figura deste macho. E era para chegar no opressor, para ele ver que está errado. Eu sabia que ia ser o teto de vidro, talvez eu tinha que ser mais cuidadoso, mas se fosse, perderia.
Estava preparado para a repercussão?
Eu queria ver esta discussão. Eu não estava preparado, já que eu nunca tinha feito música/clipe, mas eu sabia onde estava me metendo. Eu não esperava uma reposta tão rápida. Foi um pouco assustador. Recebi muito mais elogios do que críticas e fiquei muito feliz porque a problematização foi colocada, discutida.
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As críticas incomodaram?
Críticas enquanto artista, não. Não sou músico, sou escritor e só cantei porque o produtor musical, o Maestro Billy, disse que eu conseguiria colocar paixão na gravação. Não vou ganhar dinheiro com isso, não pretendo mudar de carreira. Aliás, o que eu ganhar aqui, vai ser doado para causa. Agora, quanto militante, sim.
Se você não vai mudar de profissão, acabaram as faixas de MC Queer?
Estou com um disco para ser lançado nas próximas semanas e já recebi propostas para cantar. Eu consigo cantar ao vivo. Mas não penso em mudar de profissão, sou escritor, roteirista, redator. Eu sou militante que usa a música e não músico que usa a militância.