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Ameaçado, sistema de trólebus de São Paulo completa 75 anos

Sustentáveis e pouco barulhentos, veículos seguem em uso sob ameaças de substituição pelos ônibus a bateria

Por Laura Pereira Lima
Atualizado em 11 abr 2024, 07h45 - Publicado em 10 abr 2024, 16h53
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Primeiro modelo de trólebus a circular em São Paulo (Acervo SP Trans/Divulgação)
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Em meio às discussões sobre transporte sustentável, o trólebus completa 75 anos em São Paulo. Um misto de bonde e ônibus, o veículo é ligado a fios elétricos e funciona sem trilhos ou gasolina, mas sobre rodas. O sistema de São Paulo, pioneiro no Brasil, foi inaugurado em 22 de abril de 1949 pela extinta Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), com um percurso original que ia da Aclimação até a Praça João Mendes, no Centro. Alguns anos depois, a linha foi prolongada até Perdizes, e segue funcionando até hoje, com o código 408A-10.

A frota original consistia em cinco novos veículos comprados da Inglaterra e vinte dois dos Estados Unidos, usados. Em 1968, com o fim do serviço de bondes na capital paulista, algumas linhas do antigo transporte foram substituídas por trólebus.

“Os bondes eram presos ao trilho e ao cabo superior, ou seja, não tinha mobilidade nenhuma”, explica José Aquiles, professor do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Universidade de São Paulo (USP). O trólebus seguiu como um meio importante de locomoção na cidade até 2000, quando a então prefeita Marta Suplicy iniciou um processo de desativação dos mesmos, sob argumento de que os custos são altos e os veículos, muito suscetíveis a panes. Atualmente, dos mais de onze mil ônibus, apenas 201 são trólebus, espalhados em nove linhas na capital. 

Alimentado exclusivamente por energia elétrica, o trólebus, desde sua implementação, é um transporte não-poluente. “No Brasil, a matriz energética é limpa, porque usa energia solar, eólica e hidrelétrica, mas nem sempre é assim”, afirma o professor, em menção aos países cuja energia vem de carvão e gás natural, como a China e os EUA. 

Além da ecologia, o trólebus também oferece uma viagem mais agradável — tanto para passageiros quanto para motoristas e condutores. “Ônibus a diesel é muito barulhento e fica muito cansativo para a gente. O trólebus é silencioso”, conta Marcos Vinicius, cobrador da linha 408A-10. Almir Antonela, motorista de trólebus há 18 anos, acrescenta que o veículo contribui para um trânsito mais seguro. “Os motoristas dirigem de forma mais consciente, porque têm que tomar cuidado para não desligar da rede”, argumenta.

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Modelo de trólebus atual (Edsonmilka/Wikimedia Commons/Reprodução)

Ainda assim, a tendência é a extinção progressiva do trólebus, para serem substituídos pelos ônibus a bateria, defende Aquiles.

Apesar de caro, o ônibus a bateria vem ganhando espaço na cidade. No Plano de Ação Climática do Município de São Paulo (PlanClima SP), lançado em 2021, a prefeitura se comprometeu a substituir toda a frota por veículos a bateria até 2038 e, em 2023, a cidade recebeu uma frota de 50 desses ônibus. O plano da prefeitura é eletrificar ao menos 20% da frota de ônibus da capital até 2024.

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“Quero tirar. Gastamos cerca de 30 milhões por ano em trólebus”, afirmou o prefeito Ricardo Nunes em entrevista à rádio CBN em agosto do ano passado. Segundo ele, o meio de transporte é caro porque é muito velho e suscetível a problemas técnicos. Além do custo, Aquiles aponta outro problema do trólebus: “Não tem muita mobilidade, não dá pra manobrar porque ele precisa estar plugado na rede”. 

Quando a rede cai, o motorista ou o cobrador, que recebem um treinamento específico para trólebus, devem sair do veículo e recolocá-lo na fiação elétrica, mas isso não é um problema para Antonela, que defende a manutenção do sistema. “É bom que a gente levanta um pouco, faz um exercício… a viagem é longa e esticar a perna de vez em quando faz bem”, conta, divertido.

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