A morte do geógrafo baiano Milton Santos completou na quinta (24) vinte anos. Ele lecionou entre 1983 e 1995 no Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Santos, que é um dos grandes nomes de sua área no país, se não o maior, ingressou como docente na instituição por meio de concurso. Em 1997, recebeu na USP o título de professor emérito. Quase duas décadas depois de sua morte, em 2017 uma praça no câmpus do Butantã ganhou seu nome. Não era a primeira iniciativa a celebrar a produção do pesquisador. Em 2001, uma biblioteca municipal, no bairro de Aricanduva, na Zona Leste, também passou a se chamar Milton Santos.
O caminho trilhado pelo estudioso não foi fácil. No mês seguinte à instauração da ditadura militar no Brasil, em 31 de março de 1964, ele foi preso. À época, Santos morava na Bahia, era professor universitário e atuava como jornalista. Devido a um problema de saúde, sofrido em junho do mesmo ano, conseguiu autorização para cumprir a prisão em casa. Depois de seis meses, recebeu a permissão para sair do Brasil. O exílio durou até 1977. Durante esse período no exterior, passou por diferentes países. Deu aula nas universidades de Columbia, nos Estados Unidos, de Caracas, na Venezuela, e de Dar es Salaam, na Tanzânia.
Sobre esse tempo, Santos falou em uma entrevista concedida aos pesquisadores Odette Seabra, Mônica de Carvalho e José Corrêa Leite e editada em um livro da Fundação Perseu Abramo, chamado Território e Sociedade. “Eu não era cidadão e me refugiava na filosofia, na medida em que o Brasil se distanciava e que eu não sabia mais nada sobre lá. Só a filosofia me prendia”, diz ele, que continua seu relato, dando mais detalhes sobre seus interesses e estudos. “As cartas escasseavam, o contato telefônico não era fácil como hoje. Eu lia muito em inglês, coisa que os franceses não faziam. Passei também a estudar física, o que me ajudou a continuar vivendo, a encontrar um caminho, que não era um caminho do cidadão. A história vai se refazendo com a história geral e pessoal. Eu tinha perdido a minha.”
Publicações como essa, que trazem entrevistas com o geógrafo, são uma maneira de se aproximar de sua figura. A reportagem de VEJA SÃO PAULO tentou outra via também, o contato com a viúva do pesquisador, Marie-Hélène Tiercelin dos Santos, mas ela preferiu não falar. Docentes e estudantes que também tiveram contato com o mestre optaram pelo mesmo caminho. Sem eles, ainda há estrada, já que é possível percorrer a produção de Santos. Um bom começo é o livro Por uma Outra Globalização: do Pensamento Único à Consciência Universal (2000). À leitura, então.
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Publicado em VEJA São Paulo de 30 de junho de 2021, edição nº 2744