O sisudo Luiz Gama do busto criado por Yolando Mallozzi e inaugurado no Largo do Arouche, no centro, em 22 de novembro de 1931, contrasta com o relato de seu admirador Raul Pompéia: “Um modo franco e descuidoso, com pretensões à brutalidade, e desmaiando em doçura insinuante, paternal”, escreveu o autor de O Ateneu.
Advogado, poeta e jornalista, Luiz Gama foi o primeiro grande líder negro de São Paulo. Nascido em Salvador em 1830, Gama era filho de um português e uma escrava. Aos 10 anos foi vendido pelo pai como escravo e chegou a São Paulo depois de desembarcar no Porto de Santos. Aqui, conseguiu provar que havia nascido livre e ganhou a liberdade. Ativista das causas abolicionistas, colaborou em diversos jornais, como Correio Paulistano e A Província de São Paulo. No Radical Paulistano, Gama denunciava violações de leis cometidas por representantes dos donos de escravos.
Sua missão libertadora e garantista ganhou força após utilizar uma brecha na lei de 1831 que extinguiu o tráfico negreiro. Mesmo sem diploma de direito, ele possuía uma provisão, um documento que autorizava a prática. Seu título só viria 133 anos após sua morte. Em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil lhe concedeu o título de advogado. Três anos depois recebeu outra honraria, a de Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil.
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Publicado em VEJA São Paulo de 24 de novembro de 2021, edição nº 2765