Quando os policiais chegaram à casa do médico Farah Jorge Farah, 68, na Vila Mariana, em 22 de setembro de 2017, o homem que ficara conhecido por matar e esquartejar sua ex-amante e paciente, Maria do Carmo Alves, estava morto na cama, com um corte na perna e vestido de mulher.
No dia anterior, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) havia determinado que ele voltasse à cadeia para terminar de cumprir a pena de catorze anos que recebera pelo assassinato de Maria do Carmo, catorze anos antes.
O desfecho da história surpreendeu até o experiente delegado Osvaldo Nico Gonçalves. “Ele colocou uma música sinistra, uma música de terror, coisa estranha, fúnebre. E se vestiu com roupas de mulher, colocou seio, injetou silicone no próprio corpo”, afirmou Nico, à época. Farah era cirurgião plástico.
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Esses fatos foram contados na ocasião por Vejinha, mas detalhes inéditos do caso, tanto do crime quanto do final da história, são narrados agora pela jornalista Patricia Hargreaves no livro O Médico que Virou Monstro, da editora Máquina de Livros, recém-lançado.
Um deles é que Farah chegou a se aproximar da família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes de ele assumir o Planalto. Lá pelos anos 1990, o cirurgião consultou a hoje falecida esposa de Lula, Marisa Letícia. “A partir daí, as duas famílias ficaram próximas. Lula chegou a receber o cirurgião e os pais dele em seu apartamento em São Bernardo do Campo, onde cozinhou um peixe na folha de bananeira”, conta Patricia Hargreaves.
“Em retribuição, o político e dona Marisa foram chamados para um banquete árabe na casa dos Farah. O médico também estava entre os convidados da festa de aniversário de 50 anos do ex-presidente.”
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No campo da investigação, o livro mostra que o caso foi o primeiro do Brasil a ser esclarecido com a ajuda de um produto chamado luminol, que detecta a presença de sangue. Posteriormente, a substância foi utilizada em diversas outras investigações criminais, famosas ou não.
Defendido por advogados de peso, Farah Jorge Farah ficou apenas quatro anos encarcerado. Durante o período, não conheceu nenhuma penitenciária do estado, pois ficou detido em uma delegacia da capital destinada a presos com formação superior.
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Publicado em VEJA São Paulo de 15 de dezembro de 2021, edição nº 2768