Um legítimo comércio paulistano à moda antiga, a Casa Godinho preserva as características originais do imóvel que ocupa desde 1924 no Edifício Sampaio Moreira, na rua Líbero Badaró.
Com a fachada no estilo art nouveau, o piso de ladrilho hidráulico e as prateleiras de imbuia, a mercearia mantém as tradições. Além do bacalhau, cartão de visita, e das famosas empadinhas, a venda a granel e o embrulho de papel são costumes preservados.
“A Casa sobrevive graças à diversidade de produtos que tem e à manutenção da tradição. Não é simplesmente a pessoa chegar na loja, pegar a cesta e colocar os produtos, como nos supermercados. O vendedor acompanha, esclarece dúvidas. Depois, quando o cliente vai para o caixa, os produtos são embrulhados em papel enquanto ele paga, como era feito antigamente”, conta Miguel Romano, à frente do negócio desde 1995.
A casa foi fundada em 1888 pelo português José Maria Godinho, quando ocupava um endereço na Praça da Sé. A mudança para o Sampaio Moreira completa o centenário neste ano. História é o que não falta. Em 2013, foi declarado como patrimônio imaterial pelo Conpresp, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, se tornando o primeiro estabelecimento comercial da cidade a ganhar o título.
“Hoje somos procurados por estudantes que buscam fazer trabalhos nas escolas. O reconhecimento como patrimônio imaterial é algo que temos muito orgulho”, afirma Miguel.
Parte da história da capital, a mercearia ficou conhecida por atrair personalidades como Assis Chateaubriand e Jânio Quadros, que buscavam os selecionados produtos importados da Inglaterra, França e Portugal.
Atualmente, muitos clientes da Casa Godinho são frequentadores assíduos e geracionais. “A região central era o centro nervoso da cidade. Tinham os clientes da área que procuravam os produtos de melhor qualidade, importados, especiais. Isso mudou e a gente teve que se adaptar. Atrair clientes que acreditavam que na Casa só havia produtos caros, que era um comércio impossível de frequentar”, diz Miguel Romano.