Pergunte a qualquer “moleque” com mais de 40 anos se gostava de jogar bola na rua com os amigos na infância, e depois questione qual a bola que usava. A maioria, sem dúvida, vai responder Dente de Leite.
A bola fabricada pela Estrela era uma opção barata para os peladeiros da época, já que quase ninguém tinha condições de comprar as oficiais, que eram raras, ou então as caras bolas “de capotão”.
Feita de borracha, e com os gomos pintados, a Dente de Leite era uma unanimidade na época, apesar de ser muito leve e frequentemente perder sua forma esférica e ficar ovalada. Isso, na verdade era uma vantagem. Qualquer chute com ela se tornava um chute de efeito, a gente nunca sabia para onde ela iria depois daquela bicuda na hora de fazer o gol.
Também era uma vantagem que fosse leve, porque não machucava (muito) quando levávamos as inevitáveis boladas em partes impublicáveis do corpo.
Sua constituição leve tinha uma grande desvantagem: ela furava facilmente. Bastava uma quicada mais forte em uma superfície áspera, ou uma pedra mais afiada no caminho, e pronto, a diversão acabava. Acabava? Não mesmo! A molecada continuava jogando com ela furada, que ficava menor e mais pesada.
Além disso, era só deixar um pouco no sol, que ela inflava um pouco de novo, garantindo mais alguns minutos de partida. E mesmo que isso não acontecesse, sempre tinha uma bola de reserva, já que ela era barata e praticamente todo mundo tinha uma.
Quem não gostava da bola muito leve tinha uma técnica: pegava uma nova e a esvaziava um pouco, depois jogava no barro até que ganhasse um peso extra. Ficava bem mais firme.
Graças ao sucesso, aos poucos foram aparecendo imitações de outros fabricantes, com nomes e desenhos parecidos, mas não se comparavam aos atributos da original. Ainda é possível encontrar no mercado bolas com o nome “dente de leite”, mas não são mais da Estrela e não têm a bagagem e a história que a verdadeira carrega, em anos e anos de jogos da “rua de cima contra a rua de baixo”.