Aos 78, Tânia Maria estrela ‘O Agente Secreto’ e quer fazer mais filmes
“Eu trabalho, não sou velha”, afirma a artesã maranhense, que foi descoberta em 2019 e vê surgir carreira no cinema
O Brasil volta às atenções para as telonas para celebrar e torcer, novamente, por um filme nacional. O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, estreia na quinta-feira (6) em todo o país.
O longa ganhou três prêmios no Festival de Cannes deste ano: melhor diretor, melhor ator para Wagner Moura e melhor filme pela Federação Internacional de Críticos.
Mesmo com o destaque aos dois, há um consenso geral entre quem já assistiu ao filme: quem rouba a cena é Tânia Maria, artesã de 78 anos que foi descoberta pelo cineasta recifense enquanto fazia uma figurante em Bacurau (2019).
“Idade é o que você quer. Se você quer ser velha, fica velha. Eu não sou velha”, afirma a atriz. “Se eu disser que eu sou, não sei fazer mais nada. Eu costuro, eu decoro as coisas. Então eu trabalho, não sou velha. Nunca pense que ninguém é velho. O negócio é viver, viva a sua vida”, brinca.
“Para mim, é uma honra muito grande gostarem da minha personagem, porque sou do jeito que estou lá no filme. Eu gosto de acolher, de brigar, de reclamar”, revela.
Ambientado em 1977, o filme acompanha Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que tenta deixar para trás um passado enigmático e retorna ao Recife em busca de tranquilidade, mas descobre uma trama de segredos e tensões. Tânia interpreta Sebastiana, uma dona de casa que recebe pessoas perseguidas pela ditadura em busca de abrigo.
Sobre a experiência de aprender no set de filmagem, ela diz: “Foi muito bom trabalhar com Wagner e Kleber, como diretor, é incomparável. Wagner é humano, é igual, ele ensina muito, é um professor”.
“Essa mulher é maravilhosa”, comenta Wagner Moura. “Na cena, você que eu estou impressionado, apaixonado por ela. Sou louco por ela.”
O ator baiano não é o único contente com o momento de estrelado da colega de elenco. “Em um mercado que é etarista, para mim tem um valor imenso estar nessa sala com tanta gente querendo saber quem é dona Tânia e eu tenho certeza que ela vai fazer um monte de filme. Isso vai ser muito importante para a minha geração, porque a gente não é perecível”, acrescenta Alice Carvalho.
“O trabalho que ela faz em O Agente Secreto mostra a potência que ela tem e que todas as atrizes da geração dela também têm, que precisam continuar fazendo testes, sendo chamadas para filmes e tendo bons contratos com boas comissões”, define a atriz.
O Agente Secreto foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional — a lista de indicados sai em janeiro.
Perspectivas de O Agente Secreto para o Oscar
“A parceria [com Vitrine Filmes no Brasil, Neon e Mubi] está dando muito certo, o filme está nos festivais certos, está sendo divulgado de forma bem feita. Kleber, bichinho, não dorme, vive o mundo viajando”, comenta Moura. “O nosso trabalho a gente tem feito muito bem feito de promoção e divulgação do filme.”
“Quando as pessoas me perguntam negócio de Oscar, eu digo: a gente está fazendo tudo direito, mas a gente precisa ter calma, respirar, porque esse termômetro agora, quando começa a ter essas indicações de outras premiações, aí eu começo a dizer que a gente tem um caminho que parece mais real do que há duas semanas”, analisa o ator.
Os primeiros indícios de uma possível indicação ao Oscar surgiram com a vitória de Kleber na categoria de direção da edição latina do Critics Choice Awards e as indicações a roteiro original e Wagner Moura nos Prêmios Gotham, de cinema independente. “Fico feliz, eu gosto muito do roteiro do filme”, brinca o diretor e roteirista.
“O que eu falo é que eu vou aonde o filme vai”, diz Kleber Mendonça Filho. “A Neon preparou uma turnê em que nós atendemos a convite muito prestigiosos ao filme, nos festivais de Nova York, Telluride, San Sebastian.”





