‘O Agente Secreto’: bastidores de Cannes e o que público pode esperar
“Nós tivemos a melhor première que poderíamos ter tido", afirmou Kleber Mendonça Filho, em entrevista à Vejinha

O cinema brasileiro segue surfando a onda de prestígio internacional com “O Agente Secreto” em Cannes. O filme do recifense Kléber Mendonça Filho, estrelado por Wagner Moura, venceu os prêmios de direção e ator na seleção oficial da mostra competitiva do festival — a Palma de Ouro ficou para o iraniano Jafar Panahi, com “Um Simples Acidente”.
“Tive um dia absolutamente louco, vim para Londres para um filmagem e recebi a notícia dos prêmios no set”, conta o ator, em depoimento enviado a Vejinha. “Só queria expressar a felicidade por esse filme ser mais uma peça que aproxima o brasileiro da sua cultura, dos seus artistas, depois de um tempo muito difícil. Ter hoje uma torcida pela vitória do cinema brasileiro internacionalmente, como aconteceu com ‘Ainda Estou Aqui’, me dá uma alegria profunda”.

Ambientado no Brasil de 1977, “O Agente Secreto” conta a história de Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que foge de um passado misterioso e volta a Recife em busca de paz. No entanto, ele logo percebe que a cidade está longe de ser um refúgio.
O cineasta também celebra a recepção e a passagem do Brasil pela premiação: “Nós tivemos a melhor première que poderíamos ter tido. Não só pela projeção, pelo som e com todos aqueles aplausos no Lumière, mas principalmente pela forma como a gente chegou no tapete vermelho”.

Cineasta, elenco e equipe passaram pela La Croisette em clima de Carnaval, junto de uma orquestra e passistas do grupo Guerreiros do Passo, que apresentou frevos clássicos e tem aparição especial no filme (e também em “Retratos Fantasmas”, documentário de Kléber de 2023).
A ideia para o cortejo foi da produtora Emilie Lesclaux. “Conversamos sobre possibilidades com distribuidores e procuramos apoios para levar o grupo. Não queria algo que pudesse encontrar na França, era bem importante para mim ser um grupo de Recife”, ela diz, em entrevista a Vejinha.
“Tudo em Cannes é muito protocolar, levamos para eles e, para a minha surpresa, mostraram entusiasmo quando falamos da ideia. Conseguimos confirmar de última hora, inclusive tirar passaporte de todo mundo porque ninguém tinha. Foi graças à participação de muita gente”. Segundo a produtora, a organização do festival estabeleceu alguns critérios: sem carros e cortejo desde o hotel ao tapete vermelho, além do tempo cronometrado de entrada e saída.

Sobre o que o público brasileiro pode esperar, Emilie descreve o projeto como extremamente recifense, cheio de referências locais. “Não é um filme de ditadura, tem pano de fundo nos anos 70, que Kléber filmou bem com lentes Panavision. Tem suspense, humor, terror. É uma mistura especial que gera curiosidade. Acho que as pessoas vão ficar surpresas”.
Agora, nos resta esperar até a estreia, prevista para o segundo semestre deste ano.
Publicado em VEJA São Paulo de 30 de maio de 2025, edição nº2946.