Morre Silvio Tendler, ícone do documentário brasileiro, aos 75 anos
Documentarista dirigiu obras como 'Jango' e 'O Veneno Está na Mesa' e virou referência ao retratar a política do país
O cineasta Silvio Tendler, um dos maiores nomes do documentário brasileiro, morreu nesta sexta-feira (5), aos 75 anos. Ele enfrentava há 10 anos uma neuropatia diabética, doença degenerativa que compromete o sistema nervoso, e faleceu devido a uma infecção generalizada.
A informação foi confirmada pela sua produtora, Caliban Produções Cinematográficas, no Instagram. “Hoje, a Caliban se despede de seu fundador, o documentarista, utopista e admirador da vida, Silvio Tendler. Ele partiu aos 75 anos, após 57 de dedicação ao cinema nacional. Silvio deixa uma filha, um neto, mais de cem obras, incontáveis amigos, centenas de ex-alunos, uma legião de fãs e a semente da justiça social plantada em todos nós”, diz o post.
O documentarista estava internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, no Rio de Janeiro. O velório será realizado no domingo (7), às 10h, no Cemitério Comunal Israelita do Caju, seguido do enterro às 11h.
Tendler foi referência ao retratar a política do país em obras como Os anos JK — Uma trajetória política (1981), Jango (1984) e Marighella, retrato falado do guerrilheiro (2001). Dedicou-se também a biografar nomes da arte e literatura, como em Castro Alves — Retrato falado do poeta (1999) e Glauber, labirinto do Brasil (2003).
Seu trabalho de maior público foi O mundo mágico dos Trapalhões (1981), que atraiu 1,8 milhão de espectadores aos cinemas, número que ainda mantém o recorde do gênero no Brasil. Um sucesso mais recente foi O Veneno Está na Mesa (2011), que aborda a problemática do uso intensivo de agrotóxicos na agricultura brasileira.
Em 2023, lançou seu último longa, O futuro é nosso!, realizado durante a pandemia, com participação de nomes como Ken Loach. No mesmo ano, aventurou-se pela primeira vez no teatro, com a peça Olga e Luís Carlos, uma história de amor, no Sesc Copacabana, e apresentou a mostra fotográfica Resistência retiniana, no Sesc Niterói.
Tendler enfrentava dificuldades de locomoção desde 2011, quando um defeito congênito quase o deixou tetraplégico. Ele recuperou parcialmente os movimentos após cirurgia e seguiu trabalhando. Neste ano, foi condecorado com a Ordem do Mérito Cultural.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1950, Tendler iniciou seus estudos em Direito na PUC-Rio, mas logo os abandonou para fazer cinema. Viveu no Chile no início dos anos 1970 e depois na França, onde se formou na sétima arte. De volta ao Brasil, seguiu como documentarista e professor da PUC-Rio, onde lecionou por mais de 40 anos.
Silvio Tendler deixa a filha, a produtora Ana Tendler, o neto, Ernesto, e dois animais de estimação que o acompanharam durante a pandemia: o cão Camarada e a calopsita Renê.





