✪✪✪ Anne Hathaway e Jessica Chastain estão de volta às telonas com o suspense Instinto Materno. Elas dão vida a Celine e Alice, respectivamente, vizinhas cuja amizade é colocada à prova quando o filho de uma delas sofre um acidente fatal.
Esse acontecimento desequilibra o convívio das famílias, que acreditavam ter vidas perfeitas, em um retrato tipicamente norte-americano dos anos 60. Uma sequência de conflitos envolvendo ego, morte e maternidade mostra que se tratava de um castelo de cartas.
O filme, inspirado em livro homônimo da escritora belga Barbara Abel, lançado em 2002, marca a estreia na direção do francês Benoît Delhomme, conhecido por seu trabalho como diretor de fotografia em A Teoria de Tudo e Os Infratores.
A obra original foi adaptada pela primeira vez para o cinema pelo diretor belga Olivier Masset-DePasse, em 2018. esse tempo de maturação da história, desde o lançamento da obra original até o remake hollywoodiano, fica perceptível, com algumas cenas truncadas.
As atrizes principais dão o seu melhor para tentar fazer o roteiro fluir e se entregam à violência e à loucura das personagens. A trama alcança proporções inesperadas, de uma forma tão extrema que cria situações involuntariamente cômicas. O final chega até a ser irônico de tanta coincidência.
Tudo isso é, justamente, a definição da filósofa americana Susan Sontag (1933-2004) para a palavra “camp”, estilo exagerado e irônico, que ela definiu como “uma seriedade que falha”.
Anne Hathaway é a que mais se destaca por trazer essa conotação ao longa. A direção e a trilha sonora poderiam ter bebido um pouco mais dessa água, sem se levar tão a sério, para tornar a experiência do espectador mais divertida.
Publicado em VEJA São Paulo de 29 de março de 2024, edição nº 2886