✪✪✪A diretora austríaca Jessica Hausner segue problematizando questões sociais contemporâneas em Clube Zero, que estreia em 25 de abril. O filme, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes, toca em um assunto delicado, sem citá-lo explicitamente: os distúrbios alimentares e a autoimagem.
Aqui, o tema ganha uma roupagem esotérica, sem explicações plausíveis. A educadora Miss Novak (Mia Wasikowska), recém-chegada à escola, cria o clube que dá nome ao filme, com a filosofia de que não é necessário se alimentar. Os alunos tornam-se adeptos da mentalidade e o grupo vira uma verdadeira seita.
No entanto, como pode se esperar, a má alimentação tem consequências concretas na vida dos jovens e de suas famílias, que tentam recuperar os hábitos comuns. Mia encapsula bem as faces da protagonista, que parece bem intencionada e, ao mesmo tempo, perigosa.
O trabalho de figurino (Tanja Hausner), fotografia (Martin Gschlacht) e design de produção (Beck Rainford) são essenciais para transmitir a mensagem satírica, compensando pelo roteiro (Jessica Hausner e Géraldine Bajard).
Com situações caricatas e até grotescas, a obra tenta refletir sobre o limite do ser humano quando se trata de alimentação. A crítica funciona bem, mesmo que em pinceladas, até o final, quando perguntas ficam em aberto — e seria o momento oportuno para arrematá-las.
Publicado em VEJA São Paulo de 19 de abril de 2024, edição nº 2889