Roteirista de ‘Cem Anos de Solidão’ revela detalhes da 2ª temporada
Em entrevista a Vejinha, durante passagem pelo Brasil no Rio2C, Camila Brugés comenta sobre o que o público pode esperar

Aclamada pelo público e pela crítica, a série Cem Anos de Solidão, da Netflix, vai ganhar segunda temporada em 2026. A obra adaptada do clássico de Gabriel García Márquez foi dividida em duas partes, com a primeira leva de episódios lançada em dezembro de 2024.
Em entrevista a Vejinha, a roteirista da produção, Camila Brugés, fala sobre o que o público pode esperar. “Na primeira temporada, contamos mais ou menos os primeiros 50 anos da história, então a próxima vai falar dos outros 50 anos”, explica.
A colombiana veio ao Brasil junto do produtor da série, Diego Ramírez, para compartilhar bastidores e experiências no Rio2C (Rio Creative Conference), na capital carioca, no último dia 28.
Confira a entrevista com os dois a seguir.
O que o público pode esperar sobre a segunda temporada?
Camila Brugés: Na primeira temporada, contamos mais ou menos os primeiros 50 anos da história, então a próxima vai falar dos outros 50 anos. A família se renova. Há muitos personagens novos, o foco muda, digamos, do Coronel Aureliano Buendía e Úrsula Iguarán para seus descendentes. Com essa história de maldição, a geração seguinte cai nas mesmas armadilhas, na mesma violência, na mesma incapacidade de amar até que a história termine. Quem leu o livro já sabe, mas não vamos estragar para quem não leu.
O sucesso da primeira temporada mudou algo na forma de pensar ou produzir a série?
Diego Ramírez: O fato de a primeira temporada já estar viva e ser um produto tangível, que as pessoas podem ver, tirou um peso dos nossos ombros. Foi como um bebê nascendo e pertencendo ao mundo. Felizmente, a reação foi muito positiva, tanto do público quanto da crítica, e isso nos deu, sim, uma confirmação de que estávamos fazendo as coisas da maneira certa. Obviamente, a segunda temporada tem outros personagens, outra geração, outros temas. Mas o caminho que foi traçado desde a primeira, digamos, continua o mesmo.
CB: Sim, a bússola confirmou que tomamos as decisões corretas. A coisa mais difícil quando íamos lançar a primeira foi entender se tínhamos conseguido comunicar a essência de Cem Anos de Solidão. A resposta que recebemos foi positiva. Quando confirmamos essa intuição, a escrita dos roteiristas manteve essa forma narrativa. A história continua de acordo com o romance, e a essência, no nível formal, permanece como a primeira.
Qual é a importância de representar um país com pessoas do próprio país?
CB: É estranho quando você vê um personagem estrangeiro interpretando um colombiano, ou de qualquer outro país. Isso transparece na tela. Existem alguns projetos em que isso é mais importante do que outros. O que queríamos era fazer uma história supremamente local, então escolhemos um elenco local. Mas em outros, como Narcos, isso não era importante. Era uma série que queria contar uma história em uma linguagem muito mais americana, e poderíamos ter Wagner Maura interpretando Pablo Escobar porque não era importante para ele forjar, digamos, essa identidade.
DR: Concordo. Foi muito importante para esse projeto porque de alguma forma também foi uma exigência da família. Acima de tudo, o talento colombiano foi destacado. Nós, como empresa, acreditamos fortemente na promoção de talentos locais. E não estou falando apenas de atores, mas da equipe de produção. É nossa responsabilidade fomentar talentos. Se somos colombianos e estamos fazendo o projeto colombiano mais icônico que existe, também temos a responsabilidade de promover o talento colombiano
Que mensagem o sucesso da série passa para as plataformas de streaming?
DR: É a confirmação de que, na América Latina, o conteúdo pode ser feito com uma qualidade comparável a um projeto americano ou europeu muito maior. Uma grande produção na Colômbia, com talentos colombianos, ou na América Latina com talentos latinoamericanos. É sobre o que estamos deixando com esse projeto. Mostrando que somos capazes na América Latina de fazer coisas grandes e ambiciosas que não são grandes demais para nós.
Vocês acompanham a produção audiovisual brasileira?
DR: o cinema brasileiro sempre foi uma referência, não só na região, mas também fora, como Cidade de Deus (2002), que foi um fenômeno global, com uma linguagem própria, uma narrativa bem brasileira, um tema bem brasileiro que se conectou. Ainda Estou Aqui também, de um gênero totalmente diferente, e com um poder narrativo e uma qualidade. Vejo isso não só com os diretores, mas também com os músicos. É um país com uma riqueza criativa gigantesca.