Cacá Diegues: um legado único na história do cinema brasileiro
Zezé Motta, Walter Salles e outros amigos e colegas de trabalho lamentaram a perda; cineasta alagoano deixou filme que estreia neste ano

O país perdeu uma lenda da sétima arte nesta sexta-feira (14). Cacá Diegues, cineasta essencial para a história do Brasil, diretor de clássicos como Bye Bye Brasil (1979), Tieta do Agreste (1995) e Deus É Brasileiro (2003) e um dos fundadores do Cinema Novo, morreu no Rio de Janeiro, aos 84 anos, devido a complicações antes de uma cirurgia, deixando um legado inigualável.
Amigos e colegas da área que trabalharam e conviveram com o cineasta alagoano lamentaram a perda. “Cacá Diegues era um mestre amoroso e lúcido, de uma profunda inteligência e generosidade”, afirma o diretor Walter Salles, 68. “É uma perda irreparável para o cinema brasileiro e para a cultura do país. Perdi hoje um farol e um amigo”, ele acrescenta.
“Ele foi um grande cineasta, mas também um grande aliado e pensador do audiovisual. Fará muita falta”, diz o produtor Rodrigo Teixeira, 48.

A atriz Zezé Motta, 80, que fez cinco filmes com o cineasta, incluindo Xica da Silva (1976), expressou tristeza em seu perfil nas redes sociais. “Está sendo difícil demais a dor de hoje, fica aqui registrada a minha eterna gratidão a este homem incrível”, escreveu. “Cacá sempre me chamou para papéis importantes, era sempre à frente do tempo e pensava em coisas que eu nunca imaginaria que daria tão certo. Ir para Cannes, com ele, foi uma emoção à parte. Cacá sempre foi um irmão, um amigo e um dos grandes responsáveis pela minha história no cinema nacional. A minha gratidão é e sempre será eterna.”
Nascido em Maceió, em 19 de maio de 1940, Carlos José Fontes Diegues se mudou com a família para o Rio aos 6 anos de idade. Na capital fluminense, viveu a juventude no bairro do Botafogo. Estudou Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio).
Na época, não havia faculdade de cinema no país. Mas, como amante da sétima arte, fundou um cineclube na instituição e começou a realizar trabalhos como cineasta amador. E, como estudante, virou diretor do jornal O Metropolitano, da UME (União Metropolitana de Estudantes).

As comunidades de cinéfilos que ele ajudou a formar na PUC e no veículo de mídia são consideradas cruciais para a fundação do Cinema Novo, do qual Diegues foi um dos líderes, ao lado de Glauber Rocha, Leon Hirszman, Paulo César Saraceni, Joaquim Pedro de Andrade e outros.
Em seus primeiros longas, inspirou-se em utopias para o mundo. Continuou atuando também como jornalista e fez parte da resistência à ditadura militar. Deixou o Brasil em 1969 para viver na Europa.
Cacá fez mais de vinte filmes, sempre com reconhecimento em festivais internacionais, como Cannes, Berlim e Veneza. Foi o diretor brasileiro mais selecionado como representante do Brasil no Oscar, somando sete filmes eleitos pela Academia Brasileira de Cinema, mas nunca conseguiu uma indicação.

Em 2018, Cacá foi eleito como ocupante da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele herdou o lugar deixado por Nelson Pereira dos Santos.
O cineasta, que deixa a esposa, Renata Almeida Magalhães, quatro filhos e três netos, estava finalizando seu próximo filme, uma continuação do clássico Deus É Brasileiro. “Ter tido a oportunidade de trabalhar com ele foi uma honra”, comenta Fernanda Colin, 45, continuísta da obra.
Estrelado por Antonio Fagundes, o longa foi gravado em Maceió, em um cenário “lindíssimo, com um clima muito tranquilo e alegre”. “Cacá transmitia felicidade. A rotina de filmagens respeitava o ritmo dele que, pela idade, já não aguentava longas horas de trabalho. A convivência com toda a equipe foi muito boa. Esse trabalho foi um presente.”


Deus Ainda É Brasileiro está em fase de finalização e tem estreia prevista para outubro deste ano.