‘Amores Materialistas’ subverte ideia de romance vendida por Hollywood
Filme tem um dos roteiros mais desenvolvidos do ano e acerta com carisma de Dakota Johnson, Pedro Pascal e Chris Evans

De fininho, Amores Materialistas pega o espectador pelo pé. Nesta (anti) comédia romântica, a diretora e roteirista Celine Song muda a abordagem dramática que a lançou ao sucesso em Vidas Passadas (2023) para tentar conquistar um público amplo e fazer mais um comentário assertivo sobre romance e relacionamentos amorosos contemporâneos.
Lucy (Dakota Johnson em seu ápice) é uma casamenteira, ou matchmaker, que trabalha para uma empresa especializada em unir casais. Lá, o noivado de uma cliente é comemorado como acordos milionários. Em um desses casamentos dos sonhos, ela conhece Harry (Pedro Pascal), um pretendente supostamente perfeito — alto, rico e atraente. Porém, ela fica balançada quando reencontra John (Chris Evans), o ator falido com quem já namorou e que trabalha como garçom.

Até aqui, a história parece ser uma típica comédia romântica protagonizada por grandes estrelas. A roupagem cai como uma luva quando chega uma grande virada para mudar o tom. Um problema grave ocorre com uma cliente de Lucy em um encontro “romântico” combinado pela casamenteira, deixando-a em choque. E mostra o quanto a vida real está distante do conto de fadas, além de satirizar a ideia de romance vendida por Hollywood.

Trata-se mais de um filme sobre ambição, dinheiro e status, do que sobre uma bela história de amor. Seja qual for sua leitura, fica evidente o desequilíbrio entre as partes envolvidas nesse jogo. O roteiro é um dos mais bem desenvolvidos do ano até agora. O estilo de filmagem, com câmeras estáticas, coloca os personagens de frente para o público, de modo a nos fazer sentir todas as emoções — como se fôssemos nós os pretendentes.
Se casamento é poder e aparência, nos questionamos, assim como a protagonista, qual é o segredo para um relacionamento bem-sucedido, e se as histórias de amor valem mesmo a pena. Sem precisar ser didático, o longa reflete sobre quão misógino é esse jogo e indaga se compensa colocar-se tão vulnerável por um mínimo de afeto. Um recurso fundamental para chamar a atenção a esse ponto sem lecionar é o carisma dos atores. Em geral, é um ótimo combo, que deixa vontade de repeteco.
NOTA: ★★★★☆
Publicado em VEJA São Paulo de 1º de agosto de 2025, edição nº 2955