Rótulos orgânicos e biodinâmicos ganham espaço no mercado de vinhos
A preocupação com a natureza está presente, por exemplo, em plantações de uvas sem agrotóxicos e no tratamento do vinhedo como um organismo vivo

Por séculos, o ser humano acreditou que a natureza existia apenas para servi-lo. “Dominai a Terra”, ensina a Bíblia — e levamos até as últimas consequências. Desmatamos, poluímos rios e mares, ao mesmo tempo que se extinguiram espécies. Em nome do progresso, esquecemos que também fazemos parte desse cenário natural. Nas últimas décadas, esse pensamento vem mudando. A ecologia ganhou força como valor essencial, e começamos a buscar uma reconciliação com o planeta. Nesse novo caminho, o vinho surge como um símbolo poderoso.
Desde a Antiguidade, o vinho foi visto como um presente dos deuses, um elo entre o homem e a natureza. Na Idade Média, era sagrado: representava o sangue de Cristo e expressava a bênção divina em cada safra. Na era moderna, com o avanço da ciência e da indústria, o vinho se transformou em produto — muitas vezes em larga escala, perdendo a conexão com suas raízes. A partir do século XX, com os excessos da agricultura industrial, vieram os alertas: escândalos com bebida adulterada, o uso desenfreado de aditivos e pesticidas e uma preocupação crescente com o que levamos à boca.
Hoje, cresce o interesse por rótulos orgânicos e biodinâmicos, feitos com uvas cultivadas sem agrotóxicos e com respeito ao meio ambiente. Os orgânicos são cultivados com apenas adubos naturais e o combate às pragas vêm com soluções vegetais ou minerais. Os produtores biodinâmicos, por sua vez, seguem uma filosofia mais ampla, inspirada pelo pensador Rudolf Steiner. Tratam o vinhedo como um organismo vivo, sincronizado com os ciclos da lua, dos planetas e da terra. Pode parecer místico, mas é levado a sério por vitivinicultores renomados, como o Domaine de la Romanée-Conti.
Esses métodos não são uma volta ao passado, mas uma evolução, com alta tecnologia e certificações rigorosas. E embora não garantam, por si só, vinhos melhores no paladar, sinalizam um desejo por mais autenticidade, equilíbrio e responsabilidade. O vinho expressa um novo pacto entre homem e meio ambiente. Uma forma de brindar não só o prazer, mas também um futuro mais consciente. Talvez, no fundo da taça, reencontremos aquilo que perdemos: o gosto da terra, do tempo — e da harmonia com o mundo ao nosso redor.

> Crios Sustentia Orgânico Cabernet Sauvignon 2022. Da produtora Susana Balbo, de Luján de Cuyo, na Argentina, uvas orgânicas certificadas, 100% cabernet sauvignon, sem passagem por madeira. Rubi escuro. Aroma fresco e frutado, com notas de frutas negras, ervas, balsâmicos. Paladar de médio corpo, 14,5% de álcool, taninos e acidez de média estrutura, gastronômico. R$ 141,90, na Wine.
> Zio Baffa 2020. Do produtor Castellani, presente em várias regiões da Itália. Este IGT Toscana é elaborado com uvas sangiovese e syrah, de cultivo orgânico. Entre claro e escuro. Aroma de frutas vermelhas, alcaçuz, ervas. Paladar de leve a médio corpo, com apenas 12.5% de álcool. R$ 99,90, na Evino.
Publicado em VEJA São Paulo de 09 de maio de 2025, edição nº 2943.
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