“Quando a casca do ovo quebra por fora, a vida morre. Mas quando a casca quebra por dentro, a vida nasce.” A primeira vez que ouvi essa metáfora, ela ficou ressoando em mim por dias. Em mais de vinte anos atuando como futurista e caçadora de tendências, percebi o quanto falamos de mudar cenários, negócios e culturas, mas esquecemos do mais importante: mudar por dentro.
Quando pensamos em futuro, quase sempre pensamos em inteligência artificial e algoritmos. Mas o amanhã não está apenas em laboratórios ou robôs.
Esse imaginário, como lembram iniciativas como a Decolonizing Futures Initiative, do Forum for the Future, nasce de uma visão eurocêntrica que entende o tempo como linha reta e o progresso e velocidade como sinônimo de inovação tecnocentrada.
O problema é que, ao projetar o porvir a partir de um único referencial, apagamos a pluralidade de temporalidades e de saberes que existem no mundo.
Decolonizar o futuro é um exercício que abre espaço para imaginar diferentes horizontes, em vez de aceitar uma narrativa única de progresso.
Ao ampliar perspectivas, multiplicamos possibilidades e fazemos justiça: o amanhã deixa de ser repetição linear do ontem e passa a ser campo fértil de diversidade.
O futurista Gerd Leonhard reforça essa visão: “As sociedades são movidas pela tecnologia, mas definidas pela humanidade”. É à partir dessa concepção que convido, você leitor, a participar desta coluna. Porque o futuro não é no singular: são futuros, no plural. É da nossa ética que nascem caminhos mais desejáveis. E todos eles começam de dentro pra fora.
Nenhuma IA irá transformar realidades se não transformarmos, antes, as nossas consciências. Se não rompermos nossas próprias cascas por dentro, continuaremos repetindo o mesmo vazio, lá fora.
O desafio é inegociável: precisamos urgentemente ser humanos melhores, porque jamais seremos robôs melhores. Afinal, o futuro não acontece para você. É você quem acontece para o futuro!





