✪✪✪✪ Uma mulher-criatura, fruto de uma cirurgia de transplante de cérebro, parte para uma aventura para conhecer o mundo e entender o que é a vida. “Pobres Criaturas”, em cartaz nos cinemas, conta a história da curiosa e fantasiosa Bella Baxter (Emma Stone), uma espécie de “Frankenstein” moderno — o filme é inspirado no livro homônimo de Alasdair Gray, que faz uma releitura do clássico.
Com o corpo de uma mulher adulta e o cérebro de uma bebê, Bella tem sede de descoberta. Uma delas é a sua sexualidade, um dos fatores que a move na narrativa, começando pela vontade de sair da casa-laboratório, onde foi criada pelo médico Godwin Baxter (Willem Dafoe). Instigada por Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), ela sai para uma viagem para encontrar com o mundo e consigo mesma.
Outra característica da jovem, inata de qualquer bebê, é a ingenuidade. A protagonista é otimista, acredita na bondade e evolução do ser humano e vê injustiça nas desigualdades sociais.
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A combinação desses dois traços causa um incômodo, por parecer em um primeiro momento que Bella é uma criança sexualizada. Isso é potencializado com as cenas explícitas de sexo e nudez. Mas, com sacadas inesperadas de comédia, o roteiro conduz a história de modo a explicar que se trata de um “monstro” adorável.
A protagonista levanta questionamentos sobre individualidade, gênero e empoderamento sexual. São ingredientes de uma fórmula já conhecida nos tempos de hoje, principalmente com as discussões do movimento feminista.
Bella vive uma dualidade entre se libertar dos homens e se submeter às vontades deles em busca de sua independência. Independentemente de pautas sociais, o filme constrói o retrato de uma jovem inexperiente enfrentando e reagindo aos dilemas do viver.
O arco da personagem pode ser claramente visualizado por meio da atuação espetacular de Emma Stone. O modo de falar, os trejeitos e até o sotaque britânico (a atriz é norte-americana) são certeiros e mostram seu entusiasmo pelo papel.
O estilo já característico de direção de Yorgos Lanthimos contribui para a criação de uma atmosfera fantástica. Por meio de recursos visuais e sonoros, como o uso de lentes ampliadoras e trilhas excêntricas, o espectador faz um verdadeiro mergulho à personagem e à trama.